segunda-feira, 23 de março de 2009

Faça você mesmo - Bíblia para bebês

Este post inaugura uma nova tag no blog, que ao meu ver também tem a ver com a Graça. É que Deus nos concede dons e talentos para criar, e a ação criativa nos aproxima do Criador, nos dá uma felicidade de quem reconhece em si algo do caráter divino.

Lembro que tive dificuldade de encontrar uma Bíblia para meu filhote porque mesmo as mais bonitas eram feitas daquele papel fininho que os pequenos adoram rasgar em três tempos. Então, Jaqueline, uma das melhores professoras infantis que já conheci, deu esta idéia que desenvolvemos juntas. Ao invés de dar R$ 15,00 numa Bíblia toda em papel cartonado, você pode, com cerca de R$ 4,00, confeccionar você mesmo uma, que seu filho também vai amar.

Para isso você vai precisar de:

- 1 álbum de fotografias, desses que se encontra ns lojas de 1,99, com cerca de 12 folhas. O coração recortado que aparece neste aqui veio nele mesmo. Pode também ser um fichário do tamanho de um caderno pequeno com capa e folhas de plástico, à venda em papelarias por um precinho bem camarada. Se você encontrar nem precisa encapar com feltro, só colar um figura bonita na capa.








- Uma impressora para imprimir ESTES DESENHOS ou outros a seu critério. Estes eu preparei já no tamanho certo para o álbum. São em preto e branco e mostram figuras de Jesus comcrianças e cenas de Sua vida. Se tiver tinta colorida pra gastar, você pode baixar ESTES ARQUIVOS DA EBD (procure pelos arquivos dos pré-primários e juniores também) e fazer a festa. Esta Bíblia é própria para bebês que ainda não lêem, mas você pode acrescentar palavras ou pequenas frases para estimular.
- Cola plástica (BRASCOLA, à venda em qualquer papelaria ou loja de construção)
- Feltro
- Tesoura
- Tinta dimensional (vem num tubinho com bico para facilitar a aplicação)

Passo-a-passo:

1- Encape o álbum com feltro, colando-o com cola plástica sobre a capa. Deixe o recorte abaixo nas pontas.













2- Feche as pontas com cola plástica também.
3 - Decore com tinta dimensional a seu gosto. Para quem não tem prática é bom treinar antes num papel.
4- Recorte e encaixe as figuras no álbum. Para ficar mais seguro você pode colar as bordas com durex depois que encaixar a figura (é mais difícil para as maozinhas puxarem os desenhos)
5- Está pronta! Você pode usar a mesma idéia para fazer livrinhos temáticos, sobre animais, plantas, instrumentos musicais e tudo que seu bebê gosta.
6 - Deixe o bebê manusear livremente o livro, e vá falando o que significa cada figura. Você pode passar uma vez explicando e depois deixar que ele mesmo se divirta manuseando. Logo você perceberá que ele o imita e tenta falar o que é cada figura também, como se estivesse contanto a história para você:-) Acredite, antes de 1 ano eles já podem fazer isso, o que pode fazer bastante diferença para o desenvolvimento de sua linguagem e capacidade de expressão.
7 - Cultive pequenos leitores e colherás grandes homens. O meu filhotinho é apaixonado por livros e vive me pedindo para contar histórias, que eu conto desde o ventre. Os livros ele já manuseia desde os três meses, quando aprendeu a agarrar objetos. Me chama para fazer sua liçaozinha bíblica todos os dias e se diverte com isso. Alguns de seus livros estão entre sues brinquedos preferidos, e ele passa um tempão "lendo" e "contando" histórias em nenenês, hehehe.

sábado, 21 de março de 2009

Adveniat - Algo mais

Ok, mais um texto antigo. Este é de 2004. Mas não é por falta de inspiração ou vontade de escrever, é que está difícil mesmo sentar na frente do computador, ou fazê-lo com a mente e o espírito abertos para a escrita. Esta semana ainda venho aqui escrever ao invés de reeditar.

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Acsa é uma personagem bíblica que só aparece em cinco versículos bíblicos (Josué 15:17 - 19 e Juízes 1:13-15), mas imprime uma mensagem de força indispensável em quem anda à busca de seu papel como cristão.

O pai de Acsa resolveu dá-la em casamento ao guerreiro que conseguisse conquistar uma certa região ao sul da Palestina chamada então de Quiriate-Sefer. Embora esse tipo de arranjo matrimonial nos pareça esquisito à primeira vista, é preciso analisar o contexto histórico para observar que nessa época a conquista de terras era o maior interesse dos povos, pois da posse da terra dependia toda a estabilidade deles. O pai de Acsa estava preocupado em lhe dar um marido que demonstrasse ter vontade suficiente de conquistar uma terra, pois esse demonstraria também aptidão para dar um lar seguro e próspero para sua filha. Depois, na mente de seu pai, um marido guerreiro, corajoso, era o melhor que ele poderia dar a Acsa, que devia ser uma mulher muito valorosa, a ponto do pagamento do seu dote ser a vitória de uma importante batalha.

Otoniel, primo de Acsa, conseguiu essa proeza e, conseqüentemente, a terra que conquistara. Se a história terminasse aqui todos os méritos pareceriam devidos a Otoniel, mas este fez apenas a sua parte no trato, conseguiu só aquilo que lhe era por direito humanamente. Acsa foi mais além. Ela percebeu que as terras do seu marido eram boas, mas não seriam produtivas sem água, que existia franca nas nascentes próximas, em terras de seu pai . E embora seu quinhão já fosse muito bom, ele não era tudo de que precisava: o clã de seu marido, agora o seu, precisava de mais, do melhor.
Não entendo a atitude de Acsa como ganância, mas como uma visão clara das vantagens a que tinha direito. Ela não se contentou em perceber suas necessidades e pediu ao pai aquilo que ele não poderia negar: um presente, como sinal de bênção sobre aquele casamento. Assim, os queneus conseguiram se estabelecer sobre ótimas terras e abundantes águas, sem o que as terras e todo o esforço do valente guerreiro Otoniel pouco teriam valido.

O que Acsa tem a nos dizer? Acredito que as nossas melhores conquistas são o fruto de uma parceria entre nós e Deus. Ele nos aponta as oportunidades – e é preciso conseguirmos distingui-las daquelas empreitadas que são meramente nossa vontade –, e nós nos lançamos na batalha com determinação até alcançar o alvo. Mas a história não deve parar por aqui, como a de Acsa não parou. Qualquer livro de auto-ajuda aconselharia a ter coragem de vencer as batalhas e se apossar do prêmio. Mas a Bíblia indica que os cristãos devemos reclamar a bênção completa que Deus tem para nós, aquilo que a fará fértil para gerar outras bênçãos.
Para isso é preciso perceber o que é que nos faz completos, depois ir até Ele, pedir que nos oriente a chegar até onde Ele quer que realmente cheguemos. E normalmente Ele apontará que quer que cheguemos ao Céu. Será que é uma atmosfera celestial que está faltando àquela bênção que Deus te ajudou a conquistar? Um perfume do Céu não tornaria o emprego, a casa, o casamento, o filho ou qualquer outra vitória que ele te apontou? Sem a água da vida que corre dos mananciais celestes (João 4:14), nossas conquistas serão tão efêmeras quanto o bocado deste mundo que conquistamos.
Uma vitória é sempre algo bom. Uma vitória com Deus é algo eterno. É preciso ter visão ampla para compreender aquilo de mais amplo que nós mais precisamos, e ir buscá-lo humildemente, mas com segurança, nas mãos dAquele que nos pode dar (Mateus 7:7), dAquele que, como nosso Pai amável, não nos pode negar uma bênção completa e abundante. Qual deve ser o tamanho de sua bênção esta semana? O que Deus pode ajuntar aos seus esforços? O que Ele deseja fazer que pode suprir por completo suas necessidades? Deixe que Ele lhe fale agora mesmo!

domingo, 15 de março de 2009

Só um suspiro

Estou tão cansada...
Que só consigo esperar.


sexta-feira, 6 de março de 2009

A pedidos - Músicas complementares

Não sei como não atinei com isso antes: é melhor refletir sobre uma obra musical quando se pode ouví-la, certo? Portanto, para o Marcão e para qualquer outro dos meus seis leitores ocasionais, seguem abaixo os arquivos em mp3 com as músicas mencionadas nos dois devocionais abaixo.

A PRIMEIRA é a ária para soprano e contralto do Messias de Handel, "He shall feed His flock".
Você pode baixar a obra completa (com a que é considerada por especialistas a melhor interpretação da obra), bem AQUI, no Blog do P.Q.P. BACH. Se quiser comparar, pode baixar essa OUTRA versão e aproveitar para ler mais comentários sobre o Messias.

Ária (Contralto) - Isaías 40:11

He shall feed His flock like a shepherd,
and He shall gather the lambs with His arm,
and carry them in His bosom,
and gently lead those that are with young.

Ária (Soprano) - Mateus 11:28-29

Come unto Him, all yet that labour,
that are heavy laden, and He will give you rest.
Take His yoke upon you, and learn of Him,
for He is meek and lowly of heart,
and ye shall find rest unto your souls.

Veja a TRADUÇÃO INTELINEAR do Levi Tavares.

A SEGUNDA é o conjunto de recitativos e coros citados no texto sobre a Paixão Segundo São Mateus. Você pode baixar a obra completa AQUI, créditos para o mesmo blog.

1. Recitativo - Evangelista (track 9)
Então, no primeiro dia da comemoração do pão ázimo, os discípulos vieram a Jesus dizendo-lhe:

2. Coro
Onde queres que preparemos a ceia para Tu comeres na Páscoa?

3. Recitativo - Evangelista
E Ele disse:

4. Recitativo - Jesus
Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe, o MEstre disse: Meu tempo está perto, Eu passarei a Páscoa em tua casa com Meus discípulos.

5. Recitativo - Evangelista
E os discípulos fizeram como Jesus lhe dissera, e eles aprontaram a Páscoa. Agora que o entardecer chegou, Ele sentou-se com os doze. E enquanto comiam, Ele disse:

6. Recitativo - Jesus
Na verdade, Eu vos digo, que um de Vós Me trairá.

7. Recitativo - Evangelista
E eles dicaram excessivamente tristes, e cada umd eles começpu a dizer-Lhe:

8. Coro
Senhor, serei eu?

9. Coral (track 10)
Sou Eu que devo ficar só, mão e pé amarrados na Sepultura.
Açoites e grilhões e vossos sofrimentos
redimiram minha alma.

Para os mais ortodoxos, todos os CDs aqui postados para avaliação estão à venda na AMAZON.
Ouça tudo hoje mesmo e desejar-lhe um feliz sábado será redundante, hehehe.

Adveniat - Senhor, serei eu?

Seguindo a mesma linha do devocional anterior, este, escrito para o site Adveniat também retomou um escrito antigo (de 2002) sobre uma obra de que gosto muito. Só retoquei o texto para o formato so site, "enxugando-o" Ai, preciso retomar minhas audições sabáticas de música sacra. Este hábito, que aprendi na casa do meu saudoso amigo Elias Tavares, é algo que mantém a atmosfera do meu sábado bem próxima a do Céu.
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Você sabia que nesta semana comemorou-se pela primeira vez no Brasil o Dia Nacional da Música Clássica? Cinco de Março foi o dia escolhido por tratar-se do aniversário do compositor Heitor Villa-Lobos. Como o tema “Música” muito me apraz, eu não poderia deixar de recomendar uma de minhas obras preferidas, embora ela não seja exatamente Clássica no sentido mais estrito do termo. Trata-se, na verdade, de uma música barroca, e certamente uma das mais belas obras de música sacra. Chama-se “A Paixão segundo São Mateus”, de Bach. Mesmo que seu gosto pessoal não o motive a comemorar a mais nova celebração nacional, há algo de espiritual nessa composição que você não pode deixar passar.

O pesquisador Otto Maria Carpeaux classifica A Paixão Segundo São Mateus como “uma obra de tão profunda emoção religiosa a ponto de converter um ateu”. De fato, ela é de uma mensagem tão poderosa que já se deu a Bach o título de “Quinto evangelista”. A pregação não se limita à exposição de um drama distante: o uso genial da forma coral permite que Bach transforme a música em prece íntima, e realize a introspecção da mensagem na congregação.

Um exemplo desse magnífico efeito está na primeira parte da Paixão Segundo São Mateus, que expõe o momento em que Jesus anuncia aos discípulos que será traído. “Um de vós me trairá”, canta a voz do baixo. O narrador diz: “E eles, mutíssimo tristes começam a perguntar...” (Mateus 26:22). Então entra o coro dramático dos apóstolos perguntando “Senhor, serei eu?”, pergunta que é repetida onze vezes, o que nos faz lembrar que Judas calou-se. Nesse momento, todos esperam que se siga a narração conforme está na Bíblia, com Jesus indicando os sinais do traidor. A pergunta “Senhor, serei eu?” ainda está suspensa por um acorde interrogativo. Bach toma um rumo menos óbvio e quando se espera que Jesus diga que Judas é o traidor, entra um novo coro de vozes, que, representando as vozes da congregação, anuncia outro culpado: “Sou eu!”.

De repente, os olhares que se voltavam para Judas, passam a olhar para si mesmos, e cada pessoa presente na igreja passa a se sentir pessoalmente culpada pela morte de Cristo. Ao contrário do que poderia se imaginar, esse coro não tem em nenhuma de suas notas um tom acusador, mas contrito, de um pecador que se reconhece mau. Ninguém pode ouvir esse coro sem sentir em seu coração que, em algum momento, também traiu Jesus, e merecia sofrer as penas do pecado no lugar dEle. “Vossos sofrimentos redimiram minha alma”, termina o coro deixando emocionado e surpreso o ouvinte.

Só depois disso é que o relato prossegue. Judas pergunta: “Senhor, serei eu?” e Jesus termina afirmando: “Tu o disseste”. Pronto, Bach mostrou a Cristo. Não um Cristo que chama nossos nomes para acusar, mas um Cristo que por Seu sacrifício de amor nos constrange a reconhecermos nossas culpas. Um Cristo a quem nós, todos os dias, crucificamos mais uma vez, e traímos tal como Judas quando cedemos ao pecado. Um Cristo que, ainda assim, sofreu para redimir nossas almas. Bach nos faz imaginar que até aquele “Tu o disseste” foi dito com amor e compaixão.

O sangue que flui das mãos onde cravamos, por nossas culpas, dolorosos pregos, é o mesmo sangue que nos limpa e reconcilia com Deus. A culpa do pecado, que é também a culpa que temos pela morte de Cristo, não nos é imputada devido a graça amorável dEle. Que ao começarmos esta semana possamos perguntar: “Senhor, serei eu?” E quando nos vir arrependidos, Jesus chamará o nosso nome, não para nos acusar, mas para nos dizer: “Filho, alegre-se! Perdoados estão os teus pecados” (Mateus 9:2).

Eis, Jesus estende Suas mãos para nos segurar. Vem!
Onde?
Para os braços de Jesus! Procura redenção, procura misericórdia, procura-te!
Onde?
Nos braços de Jesus! Vive, morre, fica aqui, Tu aflito. Fica aqui.
Onde?
Nos braços de Jesus!

Mas isso já é outro coro...


Nota: Paixão é como se chama o relato do sofrimento e crucifixão de Cristo nos quatro dias que antecedem a páscoa. Cantar a Paixão de Cristo era tradição na liturgia da igreja católica desde o século XIII, que mais tarde foi introduzida na liturgia protestante por Martinho Lutero, e alcançou seu clímax em Bach, que a apresentou na forma de oratórios. A Paixão Segundo São Mateus foi apresentada pela primeira vez em 1729, na igreja de São Tomás em Leipzig. Mas depois a Europa quase esqueceu que um dia existira um compositor chamado Bach. Exatamente cem anos depois, sob a regência de Mendelssohn, o impacto que esse oratório causou foi tão grande que fez a obra de Bach ser “ressuscitada”, estudada e reconhecida como um dos cumes da História da Música.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Feliz dia da música clássica

Hoje, revirando alguns escritos antigos, achei uns devocionais que escrevi inspirada por obras musicais em específico. E como fiquei sabendo pelo blog do Joêzer que hoje é oficialmente dia nacional da Música Clássica, pesquei esse texto aí embaixo para colocar aqui. Foi escrita em 2001, quando eu começava a adentrar o "magnífico" mundo da música erudita. Sabia tão pouco da técnica, da teoria e dos esnobismos que cercam esse mundo! Não que hoje eu saiba alguma coisa, mas digamos que, na faculdadede Música adquiri um certo conhecimento do bem e do mal.
Hoje estou especialmente triste e bastante desanimada. Recorro a lembranças da minha obra sacra "erudita" preferida, o Messias de Handel (sim, o Messias, aquele do Aleluia). Poderia citar obras muito mais "eruditas" e até mais "sacras", poderia ter escolhido um devocional menos ingênuo e piegas. Mas esta preferência é também uma necessidade de consolo. Uma vontade de colher afeto na Beleza que me toca. Não acho que recuperarei a comoção tão autêntica, característica desta época de minha vida. Mas a Música sempre aponta uma claridade.

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Eu já falei para vocês o quanto gosto de Handel? Só não afirmo que ele é meu compositor favorito porque também sou fascinada pela exuberância de Bach, a expressividade de Vivaldi, e a mediocridade de Mozart (o garante minha querida e saudosa amiga Renata). Se a minha vida pudesse ter trilha musical (tenho esta neurose), George Frideric Handel fulguraria em destaque nos créditos, tanto me identifico com sua música.

Eu estava aqui prestando atenção numa das muitas belas árias compostas por ele, que também é uma obra-prima teológica pelo simples ajuntar de dois versículos. A voz de uma contralto (as contraltos são formidáveis) desabrocha no meio de violinos e canta: "Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará junto ao peito; as que amamentam, ele as guiará mansamente." (Isaías 40:11). Chegue mais perto e repare: o pastor agora está sozinho, e tem o olhar fixo no horizonte, onde busca uma ovelha. Por um momento ele interrompe a caminhada, para e suspira. A voz soprano que estava agachada a contemplar a flor da voz contralto, toma-a nas mãos, levanta-se três tons acima e diz: "Ide a Ele, todos os que estais cansados e oprimidos, e Ele vos aliviará.. Tomai sobre vós o Seu jugo, e aprendei dEle, que é manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas." (ver Mateus 11:28, 29).

E agora eu ouso ir além, fazendo um arranjo nessa harmonia tocante. Quero ver a ovelha que o pastor procura. E sabe o que vejo? A ovelha de Lucas 3:4 – 6, aquela famosa ovelhinha perdida.
Quero que você imagine-se no lugar daquele pastor. Ele amava suas ovelhas, e tanto cuidava, dava carinho e atenção que estas já lhe conheciam pela voz. Mas uma dessas ovelhas sumiu, deixando-o preocupado, temeroso e decepcionado. Imagino esse pastor andando pelo deserto, fazendo sua voz ecoar nas montanhas pedregosas em busca de sua preciosa ovelha perdida. Mas parece que quanto mais a busca, mais a ovelha se distancia dele. O sol lhe queima a face ansiosa... ele começa a sentir sede e fome. Seus pés doem, mas ele continua a andar e – estranho – seu semblante transmite ânimo inabalável, sua voz firme não deixa de ser doce enquanto diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei... e achareis descanso para as vossas almas".

Consegue perceber que enquanto procura a sua ovelha perdida, o pastor chama para si não só ela, mas todos os que estão cansados e oprimidos? Pode imaginar que, naqueles vales desérticos talvez haja outras ovelhas perdidas precisando dos braços amoráveis do pastor, onde possam descansar junto ao seu peito? Nota que mesmo fatigado da busca, decepcionado com a perda de sua querida ovelhinha, e sem certezas de que tornará a vê-la, ele persiste em ser pastor acolhedor a toda criatura que cruze seu caminho? Você enxerga que este pastor não se ocupa das próprias lágrimas, mas persegue com teimosia um alvo, sem jamais duvidar de sua capacidade de amar, sem questionar se vale a pena tamanha jornada pedregosa por causa de uma simples ovelha?

Olhe para sua vida e pense nas coisas que você perdeu. Talvez você saiba exatamente o que faz falta, a saudade precisa do que um dia foi tão seu, tão você, a dor de uma ausência bem conhecida: algo que se perdeu de dentro de você. Talvez você nem tenha parado para se dar conta das perdas que carrega como fardo vida afora. Algumas pessoas preferem não pensar muito na forma como perderam a pureza ingênua, a esperança de melhorar as coisas erradas ao redor ou em si mesmo, a capacidade de amar e confiar sinceramente no ser humano, até mesmo a crença num Deus presente e amoroso e num novo mundo transformado, muito embora essas perdas se acumulem formando rugas no espírito de quem as leva.

O que eu desejo para mim e para todos aqueles que sofreram grandes perdas e decepções, é que assumam a postura daquele pastor. Não desistir de ir atrás do que se perdeu. Se isso lhe pertencia, era parte de você, então é extremamente precioso e deve voltar ao seu verdadeiro lugar. Não podemos nos sentir felizes se estamos incompletos, portanto continue procurando o amor, a amizade, a confiança, a fé, a crença. Se você fizer isso, vai estar você mesmo voltando para o seu verdadeiro lugar, pois o caminho pedregoso dos que lutam por reconquistar a felicidade, vai dar na Nova Terra, onde finalmente encontraremos tudo que um dia fomos, e que se perdeu nesses milênios de pecado.

Continue buscando. E não siga cabisbaixo e murmurante, não se isole no vale de sua dor; vá oferecendo amor e sorrisos a todos que cruzarem seu caminho. Enquanto procura sua ovelha perdida, dê o abrigo de seus braços aos que seguem cansados e oprimidos, seja alívio e descanso para os outros que estão perdidos. Você estará recuperando muitas ovelhas preciosas que a humanidade perdeu. Seja manso e humilde de coração, e você já terá achado algo muito importante: companhia para dividir o peso do jugo, e ajuda para buscar e comemorar a volta da sua ovelhinha.

Uma semana cheia dessa melodia luminosa,

Luna

segunda-feira, 2 de março de 2009

Converte o meu intelecto

Quando eu sei que minha religião está intelectualizada? Um dos primeiros sintomas é julgar um sermão, por exemplo, conforme sua construção literária, linguística, meramente teológica e não deixá-lo entrar entre a alma e o espírito como uma espada de dois gumes (Hebreus 4:12). Começamos a selecionar as igrejas que frequetamos pela habilidade dos líderes, cantores e oradores. E ao sair de um culto que julgamos "bom", permanecemos vazios espiritualmente, mas intelectualmente satisfeitos: "Viu como o pregador conseguiu prender a platéia do começo ao fim do sermão?"

Pessoalmente eu tenho grande admiração pela oratória jesuíta. Gosto de ouvir sermões bem elaborados, e não é pecado admirar o esmero com que um pregador constrói e expõe uma mensagem, vibrar quando uma escola sabatina é bem dirigida ou alegrar-se com uma música que parece ter sido entoada por um anjo. O problema é quando nosso aproveitamento da mensagem se restringe ao campo intelectual. Esta impressão pode ser causada por qualquer música de Bach ou quadro de Da Vinci. Mas onde fica o componente espiritual da religião intelecutalizada? Ele inexiste tanto quanto nas mentes mais ignorantes. Uma bela mensagem que não é recebida espiritualmente é apenas uma bela mensagem sem poder. E se não há necessidade de poder divino, o que nos leva a professar uma religião? A necessidade de poder temporal? Hábito ou tradição? Qualquer outro motivo que não seja a necessidade de Deus nos afasta do verdadeiro religare.

Pior que viver uma vazia religião intelectualizada é orgulhar-se dela. Se pudermos admitir que um bom orador cristão exerce seu dom com arte, teremos de admitir que, para toda arte há sempre um crítico literário. E em especial o mal crítico, aquele que geralmente é um artista frustrado com muito conhecimento inutilizado pela ausência de prática louvável na arte em questão. Há, assim, dentro da Religião, aqueles que se especializam em criticar os métodos, modos, técnicas e ferramentas dos que estão ocupados fazendo algo dentro da igreja. Esses críticos se dirigem a líderes, oradores, cantores e todos os demais obreiros,e normalmente não poupam apontamentos vastos em relatórios suscintos do que podia ser melhorado. "Para a causa de Deus", complementam. Será? Uma religião intelectulizada e desespiritualizada trabalha sempre para idolatrar o Eu.

Neste sentido está todo o desapontamento de Cristo ao se dirigir a esta classe de pessoas como "sepulcros caiados", "raça de víboras", "serpentes", "assassinos" (Mateus 23). Ainda que os fariseus de hoje em dia não sejam necessariamente radicais, pelo contrário, ostentem até muita liberalidade, eles também se ocupam de matar a fé das pessoas, depois de se suicidarem espiritualmente. A questão não está tanto nas filosofias e técnicas que defendem - podem até ser conhecimentos bons em si - , mas no uso que fazem deles, para julgar e destruir ao invés de elevar, para sentir-se superior ao invés de buscar o Altíssimo.

O Pr. Rubens Lessa, num dos melhores livros que já li (daqueles que não importa quanto tempo passe estão sempre atuais), "Diagnóstico e Remédio*", cita Manuel Bernardes com uma frase contundente mas acertada: "Há uma conversação que é parte da alma; e há outra de que a alma é pasto." O intelecto sem Deus é tão impregnado de morte quanto qualquer corpo embelezado, esculpido, mas destinado ao pó. No mesmo livro, o Pr. Lessa cita também Ellen White, que também não alivia: "Quantas famílias não temperam suas refeições diárias com dúvidas e cavilações! Dissecam o caráter de seus amigos e o servem como delicada sobremesa. Um precioso bocado de maledicência é passado ao redor da mesa, para ser comentado não só por adultos mas também por crianças. Nisto Deus é desonrado"; "Enquanto isto fazem a mente não está em Deus, nem no Céu, ou na verdade; mas simplesmente onde Satanás quer que esteja - noutros. Sua alma é negligenciada"(Testemunhos seletos I p. 490, 43 e 44)

"O senhor Deus me deu língua erudita para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado" (Isaías 50:4). Homens de Deus em todos os tempos alertam de diversas maneiras: um intelecto não convertido é uma arma contra Deus. Uma mente que só se ocupa do que é carnal, é naturalmente aversa ao Espírito. Uma religião que não tem em sua essência a busca humilde do que é Divino, torna-se apenas mais um desatino humano.

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* Fica aqui meu humilde pedido para que a CASA reedite o livro. Hoje é impossível encontrá-lo, até em sebo, porque quem o lê não quer se desfazer dele. Só achei um exemplar, que coloco aqui para o caso de algum afortunado se interessar. Embora esteja na estante de "saúde" (por causa do título, bobviamente), trata de assuntos espirituais com a verve única do Pr. Lessa.