quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Adveniat - Notícias

Já faz algum tempo que a televisão perdeu seu último atrativo para mim: os telejornais. Comecei a perceber que me fazia mal ver tantas notícias ruins no final da noite, e passei a usar a internet para me manter informada, porque posso ao menos selecionar aquilo que não agridirá meu espírito. Acredito que violência e maldade sempre existiram na Terra desde que o pecado se instalou por aqui, mas um homem do tempo de Jesus não era tão atormentado pela maldade humana quanto nós hoje, expostos pela mídia aos detalhes sórdidos do Mal em nível global. Eu sempre imagino como ficaria a cabeça desse homem hipotético se ele fosse trazido para nosso século sem passar pelo processo de banalização da miséria que os jornais fizeram conosco. Não à toa, hoje o medo virou doença, e a solidão – esse sintoma de desesperança – um mal característico de nosso tempo. São tristes as notícias que estão contando.

Mas não basta desligar a TV para escapar das notícias ruins. A sabedoria popular já diz que elas voam, e sempre nos alcançam, afinal, estamos vivendo num mundo corrupto, sofrendo as consequências de milênios de pecado. Não importa o quanto façamos para nos sentir seguros, uma hora a notícia trise chegará à nossa porta. Nem Jesus escapou disso. Um dia, estando Ele em retiro além do rio Jordão, alguém lhe comunicou que Lázaro, um amigo amado, estava bastante enfermo. Com uma notícia dessas costumamos nos desestruturar. Planos são alterados, preocupações tomam conta de nossa mente, não conseguimos nos centrar muito bem nos afazeres diários, parece que, de repente, somos transportados para um mundo de insegurança onde o pior horizonte está sempre apontando na direção de nossos olhos.

Mas Jesus, que ao contrário de nós tinha uma pecepção espiritual muito refinada, qe uma proximidade muito forte com o Pai, disse algo que acho ser a frase dos sonhos para todos os milhões de doentes que neste instante padecem nos hospitais. A frase desejada por todos os familiares destes, pelas mães que não sabem mais o que fazer para aliviar o sofrimento de seus filhos, pelos pais que receberam um diagnóstico terrível quando estavam vivendo uma gravidez sonhada e feliz. Jesus disse: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.” (João 11:4)

Em muitas outras passagens bíblicas, pessoas que estão sendo atormentadas por doenças físicas, mentais ou espirituais foram retiradas do plano da miséria, uma vez que suas enfermidades eram vistas pelos judeus como fruto direto ou indireto do pecado, para o plano de honra: o motivo de seu sofrimento era testemunhar o poder de Deus. Foi assim com o paralítico de Capernaum (Marcos 2:12), com a mulher paralítica (Lucas 13:13), com os dez leprosos (Lucas 17:18), com a mulher samaritana (João 4:39), com o jovem endemoniado (Lucas 9:43), e com o próprio Lázaro (João 11:40).

A Bíblia não utiliza esse argumento para explicar a causa de todo sofrimento humano, de todas as desgraças que acontecem aos filhos e criaturas de Deus. Em muitos casos simplesmente não parece haver uma explicação, porque nossa mente não está apta a entender como se processam os desígnios espirituais em relação ao nosso mundo. Creio que um dia isso nos será revelado, mas até lá, muitos pais, mães e família ainda hão de chorar seus mortos.

Mas Cristo nos dá uma esperança a que podemos nos apegar: não existem apenas más notícias. O Evangelho é a boa nova de que a lógica do pecado gerando a morte pode ser diferente, e sofrimento, tenha motivo ou não para acontecer, terá fim. Eu posso crer no poder de um Deus que me escolheu para mostrar ao mundo que Ele tem poder de curar e salvar. Quero que esta crença me faça viver de modo levar esperança a outros também. Que me faça sorrir e viver serena o bastante para sentir que há um bom propósito em eu estar aqui. Mesmo sem saber os motivos de Deus. Quero apenas sabê-lO. Respostas ou soluções podem não ser tão importantes quanto ter uma Fortaleza onde me abrigar até aquele esperado dia... (Salmo 62: 5 – 7; Apocalipse 21).

Interlúdio

Ontem não escrevi.

Pela manhã fizemos uma ultrassonografia de rotina, para verificar coom está se desenvolvendo meu bebê, agora que está com 21 semanas gestacionais.

Ele está bem, a não ser por uns cistos que o médico visualizou em seu cérebro. São chamados "cistos nos plexos coróides", um nome bem complicado para algo enigmático. Não se sabe ao certo porque eles aparecem, mas é bem na região onde o cérebro começa a se formar. E em alguns casos pode ser indicativo de síndromes que tem a ver com alterações nos cromossosmos, como síndrome de Down e Edwards. O prognóstico do médico, porém, e de todos os relatos que vi na internet, procuram me tranquilizar: em mais de 90% dos casos esses cistos regridem sem deixar sequelas, até as 29 semanas gestacionais.

Mas tem como ficar tranquila sabendo que o bebê que você já ama em seu ventre está com vários cistos nos cérebro, sendo o maior com mais de um centímetro num pequeno órgão de 5 cm?

Tirei o resto do dia pra curtir bem minha preocupação. Não peguei na minha monografia, não consegui escrever o devocional, chorei, pesquisei tudo na internet sobre o assunto, vi fotos de bebês deficientes, os mais tristes casos de síndrome de edwards, pensei milhões de besteiras... como o fato este bebê desde o começo mexer bem menos que o Vinícius, a TN que não fiz... lembrei de todos os bebezinhos deficientes que atendi nas sessões de musicoterapia, pensei nas piores posibilidades, como o fato dele começar a desenvolver atrofias a partir de agora, e me permiti sentir muita pena de mim. Orei bastante, é claro, com meu marido e com Vinícius também.

Mas decidi que minha angústia duraria só até ontem. Hoje vou retomar minha vida, minha monografia, minhas meditações, e não vou me permitir mais deter meu pensamento sobre minhas preocupações nem sentir pena de mim.

Fé é isso mesmo, é uma decisão, e eu decidi crer que esses cistos só apareceram para provar minha fé e, às 29 semanas, servirem de testemunho da atuação de Deus. Eu não vou me tranquilizar por estatísticas. Não importa que em mais de 90% dos casos esses cistos regridam, porque eu já faço parte de uma estatística ínfima: sou parte do menos de 1% das gestações onde esses cistos ocorrem, como vou confiar em estatísticas?

"Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha fortaleza; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; Deus é o meu forte rochedo e o meu refúgio." (Salmo 62: 5 - 7)

Confio em Deus, já entreguei minhas lágrimas e preces a Ele, agora me tranquilizar é a prova de que estou confiando.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Adveniat - Buscai

A Bíblia insiste em nos orientar quanto a certas atitudes que os seres humanos temos o costume de esquecer: lembrai, fazei, buscai. São imperativos justamente porque tendemos a negligenciá-los em nossa vida espiritual. Jesus mesmo quando esteve aqui como Homem, alertou aos discípulos quanto a necessidade de buscarem a Deus, fazendo ecoar as palavras do profeta Isaías: “Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55:6; João 7:33, 34; Mateus 7:7)

Mas como o mesmo Cristo que disse “buscai e achareis”, assseverou que chegaria o momento em que seus discípulos O buscariam sem sucesso? E como entender que em dado momento Deus pode se “esconder” de nós, ir “para longe”, e por isso temos que buscá-lo agora? A mesma Bíblia não contém tantas promessas relativas à presença contínua de Deus para aqueles que O amam? Não é justamente a idéia de um Deus onipresente, com quem podemos contar sempre, que se constitui a maior segurança do cristão? Por que então o alerta para buscá-lO se Ele estará conosco perpetuamente?

Acredito que biblicamente Deus já demonstrou que sempre esteve e sempre estará a procura do Homem – este é o próprio plano de Salvação: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). Somos nós quem nos afastamos de Deus por causa da nossa natureza pecaminosa, e por isso precisamos ser lembrados de buscá-lO. Refiro-me àquela natureza pecaminosa que nos faz cometer delitos e pecados muito maus, nos fazendo sentir indignos da face de Cristo, mas que também é a mesma natureza pecaminosa que nos faz achar que, ao praticarmos atos de bondade e justiça, não precisamos mais da presença de Deus para nos ajudar – é só cumprir as regras e estaremos salvos. As igrejas lotadas são aquelas onde alguém está pregando que você pode fazer tudo que quiser sem que haja consequências espirituais, ou onde alguém está fazendo listas de coisas que você precisa fazer para ser salvo - ambos os enganos, métodos fáceis para tapear o espírito e desviá-lo de uma busca verdadeira, mas muito mais complexa, rumo a Deus.

“Buscai ao SENHOR e a sua força; buscai a sua face continuamente” (Salmos 105:4). Força para vencer nossa tendência para o mal e para a auto-suficiência. Continuamente, porque não basta buscá-lO quando nos sentimos maus, perdidos, doentes, necessitados, arrependidos. É preciso permanecer buscando a Deus quando achamos que tudo está sob o nosso controle, quando forjamos maneiras de nos sentirmos bons e justos, quando criamos nossas próprias formas de assepsia espiritual que não passem pelo sangue do Cordeiro, quando nossos atos de justiça própria nos embriagam e viciam a ponto de não sentirmos mais necessidade nem prazer de chamar pelo nome de Deus, de nos humilharmos, orar, buscar sua face, nos convertermos dos caminhos maus que nem enxergamos mais, ouvi-lO, sentir Seu perdão, gozar Sua cura (2 Crônicas 7:14).

Somos tão miseráveis, pobres, cegos e nus que nossa natureza se deixa perverter facilmente tanto pelo que é mau quanto pelo que parece bom. E quando buscamos a Deus é sempre por necessidade, por interesse, e tem mesmo que ser assim, porque somente cônscios do quanto somos vis é que poderemos entender plenamente a grandeza e misericórdia de Cristo. “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” (João 6:26); não O buscamos porque somos bons, mas porque Ele é bom. E a justiça que encontramos ao buscá-lo está em desviarmos os olhos de qualquer bem ou mal, orgulho ou culpa que haja em nós, e contemplar a “rocha de onde fomos cortados, e a caverna do poço de onde fomos cavados” (Isaías 51:1)

Buscar a Cristo exige mais de nós que ir ao templo, que se ajoelhar ou fazer nossas leituras devocionais. Essa é uma busca para se fazer como quem procura tesouros escondidos por trás de nossa suposta sapiência (Provérbios 2:4), uma busca para se fazer com diligência de um ser humilde (Provérbios 7:15), com TODO o coração e inteireza de alma (Deuteronômio 4:29, Jeremias 29:13), com prioridade, e isso pode envolver sacrifício (Mateus 6:33), com a ansiedade genuína de um espírito sedento - sede gerada pelo próprio Espírito de Deus, e um espanto renovado a cada encontro com a Fonte da surpreendente Graça (João 4: 1 – 30).

E ainda é preciso lembrar que buscar a Deus já é se colocar na presença dEle, já é ser agraciado com a necessidade de estar com Ele, mesmo que isso nem sempre seja percebido como um presente. Essa busca não parecerá nunca estar perto de terminar. Por vezes parecerá até mesmo inútil, porque o humano que há em nós não consegue ver facilmente as evidências espirituais da presença de Deus. Portanto alem de buscá-lO, temos que compreender que a vida é a própria busca: “Buscai-me e vivei” (Amós 5:4), diz o Senhor àqueles que o procuram.

Intróito

Passei um bom tempo sem escrever devocionais. Os pequenos transtornos cotidianos acabaram por se acumular e provocar um grande incômodo de ordem emocional e psíquica, que tive de tratar em silêncio, porque o silêncio denota cura, não é à toa que há cartazes nos hospitais pedindo por ele.
Depois, já convalescendo, comecei a retomar aos poucos minhas atividades intelectuais, que por causa da pausa se avolumaram de modo a eu sentir que não daria conta de "ter que" escrever meus devocionais semanalmente.
Semana passada recebi a prazenteira mensagem abaixo, do meu amigo Marcão, pessoa que foi e é pontapé e motivação para eu escrever. Mais uma vez ele veio me acudir mostrando a necessidade de não afastar o Espírito com meus "compromissos inadiáveis".
E Deus me fez, durante toda a semana, sentir mais e mais sede dEle. Uma sede que, concluí, não daria fim de outra maneira senão me colocando na presença dEle. Resolvi então - ou Ele resolveu por mim - que será assim. Também preciso convalescer espiritualmente, e para tanto preciso de um tipo especial de silêncio, aquele em que a gente se posta aos pés da cruz e espera, serenamente, pela voz de Deus.
Hoje amanheci com este propósito no coração: todos os dias vou vir aqui, antes de tudo, sentar na cadeira em frente ao computador, encarar a cruz e pedir que Deus fale comigo. O que Ele falar, escreverei. Não sei por quantos dias o farei, e não quero me preocupar com isso, já tenho prazos demais a cumprir. Quero apenas buscá-lO e a Sua força, buscar Sua face continuamente (Salmo 105: 4). Quero buscá-lo e viver (Amos 5:4).

ps.: Eu ia linkar o texto do Marcão, mas como não o achei no blog dele, vou colocar aqui.

Para ilustrar o que eu gostaria de dizer com este texto, poderiamencionar esse casal que conheço lá da igreja. Eles têm três filhos, omais velho com acho que nove anos e a caçulinha tem uns quatro. Talvezvocê tenha ideia de quanto três filhos não absorvem de tempo... Bem,eles trabalham duro e vivem nessa confusão a que costumamos chamar SãoPaulo e você também pode calcular quanto de tempo isso consome. Aindaassim, são voluntários no clube de aventureiros da igreja, o que tomatodas as manhãs de domingo e outras horitas mais. Parece, porém, queainda sobra algum tempo, porque nas horas vagas que sobram, corremmaratonas juntos.

Você já sabe isso, ou ao menos intui, mas de quando em vez é bom quealguém o lembre: quer saber quais são suas prioridades reais na vida?Veja com o que gasta seu tempo. Simples assim. Não sobra tempo paranada? Esse "nada" seria algo agradável, divertido, importante ou algoessencial? Você consegue mesmo viver sem o essencial? Até quando?

Existe um pequeno problema com nossas desculpas: existe muita gentetão pressionada pelas demandas da vida moderna quanto nós e que aindaassim realizam coisas fantásticas. Existe gente como a gente que nãodescura do que é essencial, está em contato com Deus diariamente,aplicada a ouvir a voz dEle e ainda por cima crescendo, vivendo eacontecendo. Isso parece invalidar nossas desculpas, não acha?

Talvez valha a pena lembrar de Lutero, que orava uma hora por diaantes de o sol nascer e, quando teria um dia especialmente cheio decoisas e de trabalho, orava três. Ou então o pr. David Cho, líder damaior igreja do mundo, em Seul, para quem um dia perguntaram como éque ele dava conta de uma igreja com 800.000 membros, umauniversidade, um jornal e nem sei mais o que e ainda assim passar amanhã inteira orando e estudando a Bíblia. Ele pareceu um poucoespantado com a pergunta e respondeu: como é que eu conseguiria fazertudo isso SEM passar as manhãs orando?

Sua vida é o que você está fazendo com ela agora, neste instante.Pense nisso.

Feliz sábado, @migos!