terça-feira, 31 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 17

Texto Bíblico do dia:

João 20:26 - 31 - "Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Deixar que Ele me conduza e aceitar seu ritmo de andar comigo, crendo que Ele está comigo.

Meditando:

A meditação de hoje falou sobre a necessidade de crescimento para atingir a maturidade espiritual. E eu inevitavelmente pensei em como foi complicado para mim crescer fisicamente. Primeiro porque, como todas as crianças, eu queria "ficar grande" o mais rápido que eu pudesse. Achava que quando completasse catorze anos estaria pronta para enfrentar o mundo, ser independente, fazer o que quisesse da minha vida. Mas quando os catorze anos se aproximaram eu comecei a ficar preocupada porque tinha crescido bem mais que a média dos meus colegas, era a "grandalhona" da turma e cada centímetro que eu ganhava era recebido com choro e ranger de dentes. Meu pai, que me ajudava a medir meu tamanho mensalmente (os pais são obrigados a cada coisa!), tentava me consolar, mas eu ficava deprimida. As pernas e braços estavam enormes, minha magreza saltava aos olhos, e não tinha como deixar meu corpanzil desengonçado passar despercebido onde quer que ele fosse...eu estava crescendo! E os outros não tinham como não ver!

Lembrei disso porque penso que querer crescer bem rápido não é o único problema do cristão. Mais preocupante é não querer crescer. Ambas as situações redundam em conseqüências bastante dolorosas, e envolvem compreensões errôneas de um mesmo processo. Enquanto alguns acham que Deus está demorando demais para fazê-los gigantes espirituais, outros acham que Deus está cobrando muito deles, que Ele poderia "ir mais devagar".

Se analisarmos a vida dos discípulos de Cristo perceberemos esses problemas entre eles. Depois que Jesus morreu, alguns deles descobriram que eram pequenos demais, que não estavam suficientemente preparados para a missão que lhes tinha sido dada, queriam crescer logo, mas não conseguiam! Eu vejo Pedro assim. Ele queria ser grande! "Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei!". Eu o imagino dizendo isso e inquirindo a todos ao redor (veja Marcos 14:31): "Não é mesmo pessoa? Nós não o negaremos, jamais! Mesmo que queiram nos tirar a vida, não é?", "Sim, Sim!", disseram. E vocês sabem o que aconteceu. Depois, como fazem todas as criaturas que se julgam pequenas demais para sobreviver num mundo de predadores, eles se esconderam. Outros discípulos acharam que Jesus poderia ter sido mais claro quanto ao que eles teriam de passar, pois se soubessem que enfrentariam risco de morte teriam tido mais cautela. Afinal tinha família, empregos, uma vida a preservar! Deus, sendo justo, não poderia exigir que isso lhes fosse tirado. E como fazem todas as criaturas que julgam Deus severo demais (ou a si mesmos capazes de menos), eles se esconderam.

Alguns discípulos estavam reunidos - trancados, com medo - quando Jesus, depois da ressurreição apareceu no meio deles pela primeira vez. Que bênção! Eles viram a Cristo, se alegraram, receberam o Espírito Santo e da segunda vez que Jesus apareceu no meio deles o que aconteceu? A Bíblia nos diz que as portas ainda estavam trancadas. Mas eles não deveriam mais ter medo, não é? Eles tinha visto a Jesus! Deveriam ter se tornado gigantes espirituais! É, só que eles ainda tinha medo. Porque o Espírito Santo ainda tinha um longo trabalho de amadurecimento a fazer neles. E o Espírito sabe que a fruta perde o sabor quando amadurece rápido demais artificialmente.

E tinha também Tomé. Pode ser mera especulação minha, mas talvez Tomé fosse um dos discípulos que tinha medo de crescer. Tudo bem, ele já tinha conhecido a Cristo. Já sabia que Ele era o Filho de Deus. Mas agora seus colegas o olhavam e viam algo de estranho acontecendo com ele. Era a responsabilidade do crescimento se fazendo patente. "Mas Tomé, nós vimos o Senhor!", disseram os discípulos. E Tomé racionalizou que, tudo bem, eles podiam até ter visto, mas ele não vira, e isso não pesaria sobre seus ombros. Se Jesus estivesse vivo, isso traria implicações para a vida de Tomé que ele achava que não poderia suportar. Então era melhor para ele nem ter visto mesmo nada. Bem, vocês podem me dizer: "E Jesus apareceu a Tomé e resolveu seu problema, certo?". E eu vou discordar. Não acho que o problema foi resolvido, nem acho que Cristo apareceu para resolver o problema dele. O texto só diz que Jesus o repreendeu. E a partir daquele momento Tomé aceitou que tinha de crescer. O que significava ainda um longo caminho a percorrer, pois o Espírito sabe que a fruta colhida antes do tempo também perde o sabor.

O que os últimos versículos do texto bíblico de hoje me dizem é que o crescimento dos discípulos não dependia apenas do quanto Jesus quisesse muito isso, nem apenas do quanto eles o quisessem em algum momento de suas vidas. Cristo realizou "muitos outros sinais" diante dos discípulos, coisas que só saberemos quando chegarmos ao Céu e conversarmos com eles. Mas mesmo o Poder de Deus não pode com uma vontade inconversa. Lembro que algumas vezes em minha vida eu disse a Deus: "Por que Tu não envias um anjo, um sonho, um milagre, e resolves de maneira clara esse problema? Não fizeste isso no passado?". Então me deparava com a história do povo israelita, que viu tantos sinais e prodígios e ainda assim ficou fora de Canaã. E lembrava de tantas atuações maravilhosas de Deus em minha vida, que nem por isso me fizeram ter mais fé. O versículo 30 parece me dizer: "A parte de Deus é mostrar que está presente, e pode dar todas as condições para que o crescimento ocorra. Mas como, onde e quando isso vai ocorrer, depende primeiramente de depor DIARIAMENTE a vontade diante dEle, a fim de convertê-la, é preciso querer crescer todos os dias, e todos os dias receber com alegria a medida que Deus conceder." Depois é só deixar que Deus vá ajustando nosso ser desengonçado até alcançarmos a maturidade que nos está reservada.

segunda-feira, 30 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 16

Texto Bíblico do dia:

Salmo 81: 13 - 16 - "Oxalá me escutasse o meu povo! oxalá Israel andasse nos meus caminhos! Em breve eu abateria os seus inimigos, e voltaria a minha mão contra os seus adversários. Os que odeiam ao Senhor o adulariam, e a sorte deles seria eterna. E eu te sustentaria com o trigo mais fino; e com o mel saído da rocha eu te saciaria."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Verificar se o meu caminho está sendo o caminho de Deus

Meditando:

Hoje, na faculdade, minha turma da disciplina de Didática discutiu sobre o papel do educador. E eu partilhei uma experiência minha que ilustra como vejo esse papel. Falei que quando era criança, meus pais não tinha condições de comprar livros para mim que não fossem aqueles pedidos da lista da escola, e isso já era um grande sacrifício. Antes que as aulas começassem eu lia todos aqueles livros - especialmente o de português - e me dava por satisfeita.

Mas um dia eu fiquei doente, não pude ir à escola por alguns dias e minha mãe trouxe um presente. Era um livro chamado "O pintinho amarelinho", e eu fiquei de tal modo encantada com ele que depois de o reler "trocentas" vezes, senti necessidade de ler outro daquele. O "livro de português" pareceu-me, de repente, muito pouco. Eu queria saber a história de outros bichos, outras pessoas, outros mundos que pudessem ser desvendados de capa a capa de um só fôlego. E como meus pais ainda não tinha condição de me comprar mais livros, e resolvi escrever. Escrevi "Flipinho, o peixinho", "A Rosa", "Ana e a Cidade", "A origem do sorriso" e mais um bocado de pequenas obras que vocês não verão em livraria alguma, mas eu guardo carinhosamente em meu armário, como um passaporte que me levou a horizontes fantásticos.

Para mim, o papel do educador é esse: fazer seus alunos sentirem necessidades que eles nem sabiam que tinham até então. E deixar que essas necessidades os conduzam além das limitações de suas realidades imediatas. Um educador é aquele que apresenta perspectivas e cria expectativas a partir de potencialidades que ele descobriu existir em seu aluno. Para tanto, ele precisa unir sua missão à vida daquele pequeno explorador, e retirar da própria vida os instrumentos que o guiarão na busca, então prazerosa e desejável, de horizontes mais amplos.

Pois não é assim mesmo que Deus nos educa? Sua Palavra cria em nós aspirações mais nobres, desejos mais puros, pensamentos elevados. Nela estão as perspectivas e expectativas de um plano especial para nossa vida. Mas é justamente na nossa vida onde ele vai operar tanto o querer como realizar (Filipenses 2:13), o prazer e o desejo de buscá-lO. Somente vivendo é que nos daremos conta de necessidades que nem julgávamos existir, e partiremos delas em busca de superar as limitações a que estivemos presos sem perceber. Por nos conhecer tão bem, Deus permite que as situações da vida criem oportunidades de aplicação prática de Sua Palavra e conseqüente crescimento. Ele não ignora nossas dificuldades pessoais, tanto que afirma que não nos sobrevirá "nenhuma tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar" (I Coríntios 10:13). E assegura ainda: "Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança." (Jeremias 29:11) e "Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada." (Romanos 8:18).

Duas frases me chamaram atenção na meditação de hoje e me acompanharam durante todo o dia. A primeira diz que Deus utiliza mais das circunstâncias para nos tornar semelhantes a Jesus do que a nossa leitura da Bíblia, e a razão é simples: passo uma hora lendo a Bíblia, e 23 horas me defrontando com as circunstâncias da vida. A segunda frase diz que eu nunca saberei que Deus é tudo que eu preciso até que Ele seja tudo o que eu tiver. Ambas as frases me fazem pensar que a vida que Deus me ofereceu, é a mesma vida que me oferecerá a Ele um pouco mais, cada dia, se eu me deixar ver que a vida aponta esta necessidade.

O texto bíblico de hoje afirma que, mesmo andando em Seu caminho, eu ainda estarei sujeita a batalhas e embates com os inimigos. Mas também me garante que em meio a essas dificuldades Deus me susterá com o que de melhor Ele tiver, os desafios da vida serão minha oportunidade de provar as delícias do Seu amor.

domingo, 29 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 15

Texto Bíblico do dia:

Mateus 7: 24-27 - "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; contudo não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e grande foi a sua queda."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Começar a praticar com a tenacidade de alguém que lança o fundamento de sua casa sobre a Rocha. Cavar a Rocha para firmar-me nela.

Meditando:

Ontem a física, hoje os fenômenos físicos. O texto bíblico acima nos leva a refletir sobre o aprendizado prático da Palavra de Deus. Na ilustração das casas construídas sobre a rocha e sobre a areia, Jesus enfatiza o resultado, mas eu me permiti divagar um pouco pelos meios.

Imaginei o primeiro homem resolvendo edificar sua casa sobre a rocha. E à minha mente vêm o homem contemplando um belo lugar, talvez porque todos os lugares com rochas que já vi constituem paisagens muito bonitas. Vejo o homem admirando o local perfeito, com uma visão fantástica que ele desejaria ver todos os dias ao acordar. Em seguida, ele olha para a rocha, e vê que o trabalho será difícil. Então olha mais uma vez para a paisagem e... decide começar. Lançar o fundamento da casa é a tarefa mais difícil. Em alguns momentos ele teve de cavar a rocha, e isso lhe causou ferimentos, calos, dores, tristezas. O trabalho foi demorado e penoso, mas sem desistir, enfim, ele conseguiu firmar um bom alicerce. Construir o restante da casa foi mais fácil, embora também trabalhoso. Mas suas mãos e braços estavam mais fortes, seu ânimo renovado por ter concluído a parte mais difícil. E logo ele pôde desfrutar de sua segura morada.

Este é o homem que ouve a Palavra de Deus e a pratica. Ao ouví-la ele descobre nela algo que sempre desejou intimamente. As promessas, a paz, o bem ali contidos respondem a todas as aspirações de seu espírito, e são algo que ele desejaria ter consigo a cada manhã. Mas então percebe que isso só será possível se ele viver de acordo com o que a Palavra lhe ensina, e para isso será preciso um trabalho longo e penoso dentro de si mesmo. A construção de um lugar onde o Espírito Santo possa habitar também pode causar ferimentos, dores, calos, tristezas até! No começo será mais difícil, pois adequar nossa vida aos princípios divinos exige mudanças profundas e muita comunhão com Deus. Praticar a Sua Palavra - construir a casa - não significa querer mudar a si mesmo com muito esforço e força de vontade, mas submeter a própria vontade à Vontade de Deus, e para isso usar a Força Divina, que se obtém pela fé. É no âmbito da fé e no seu processo de crescimento que se dão todas as batalhas. Em alguns momentos será preciso cavar a Rocha - procurar a Deus com lágrimas, com o rosto em terra - para alcançar um firme fundamento. Mas cada vitória tornará o espírito mais forte e animado para as novas batalhas, até o ponto em que chuvas, torrentes e ventos não ameaçam mais. Este é o ponto em que se pode dizer: "vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20).

O homem que não pratica a Palavra de Deus, é aquele que ao encontrá-la tem a mesma reação: ao ouví-la ele descobre nela algo que sempre desejou intimamente. As promessas, a paz, o bem ali contidos respondem a todas as aspirações de seu espírito, e são algo que ele desejaria ter consigo a cada manhã. Mas quando ele se depara com a possibilidade de um trabalho longo e penoso prefere ir procurar outras paisagens... ah, sim, há mesmo muitas paisagens belas por aí. Mas só a Rocha serve para quem quer um seguro abrigo. Vieram as chuvas, as torrentes e os ventos, e o homem que construiu sobre a areia teve de deixar aquela paisagem. Mais ferido na tormenta que se machucaria na construção de uma casa firme sobre a rocha. Terá ido em busca de outras paisagens? Terá compreendido que para ter a paisagem confortando perpetuamente seu espírito teria também de tornar-se parte inamovível dela?

Agora vejo dois quadros. No primeiro, um homem errante, cansado, tão ferido que seria capaz de jurar a si mesmo nunca mais tentar construir uma casa outra vez. "Não vale a pena, todas as casas são iguais. Você se empolga, gasta tempo e suor nela, e depois ela cai bem em cima de você, e Deus não faz nada pra mudar isso", ele diria. Bem, é o que alguns dizem da religião que professavam também. Mas sabe, no outro quadro eu vejo um homem feliz. Ele também sofreu, mas pensou não só na casa e na paisagem - poderíamos dizer por analogia, na religião e nas vantagens de ser cristão - mas compreendeu a necessidade de um firme fundamento em que pudesse alicerçar tudo aquilo. Alguns também dizem isso da própria religião, e esses são os que encontraram a Deus pelo praticar Sua Palavra. O homem que construiu sua casa sobre a Rocha não precisa de outras paisagens transitórias para satisfazer seu espírito, mas a cada dia encontra uma nova beleza escondida ao redor de sua casa. Nesta ele abriga sua família, suas realizações, as coisas que mais gosta, os sonhos que o movem. Este homem senta na varanda da casa a cada pôr-do-sol, onde sorri e canta. E seu canto ouvido daqui, onde estou, me faz lembrar ainda outros homens que cantam com o mesmo sorriso a sua religião, que é a sua casa:

"Da Igreja o fundamento é Cristo, o Salvador
E nEle ela descansa, é forte em Seu amor
Em Cristo edificada, bem firme ficará
Pois sobre a Rocha eterna jamais se abalará.

A Pedra mui preciosa que Deus providenciou,
Sustenta pedras vivas que a graça trabalhou;
Sejamos sempre unidos, vivendo em plena luz
E a glória desta Igreja será do Rei Jesus.

Em meio às duras lutas que deve confrontar,
Espera a Igreja, em Cristo, um dia triunfar,
Pois a visão gloriosa enfim se cumprirá
E a Igreja vitoriosa em paz repousará."

(Hino 504 - Hinário Adventista)

sábado, 28 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 14

Texto Bíblico do dia:

Deuteronômio 31: 24 - 26 - "Ora, tendo Moisés acabado de escrever num livro todas as palavras desta lei, deu ordem aos levitas que levavam a arca do pacto do Senhor, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca do pacto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra vós."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Contemplar a Cristo para obter a motivação correta para mudar meu comportamento e levar minha vida.

Meditando:

Estamos cogitando fazer um concurso para o qual terei que estudar um pouco de física. Não me animo muito com a perspectiva, já que todas as minhas opções de estudo nos últimos anos têm se voltado para o lado das ciências humanas, e eu esperava lidar com números apenas no rodapé das páginas dos livros. Mas o que mais me incomoda é a sensação de que não tenho inteligência para compreender o pensamento físico. Esta impressão ficou desde os meus últimos anos na escola, especialmente um pouco antes de eu ter de me preparar para o vestibular. E, sinceramente, penso que isso tenha a ver com meus professores...

Infelizmente alguns deles não sabiam ensinar. E ao invés de nos explicar, só conseguiam nos levar a ter mais e mais medo daquela matéria que parecia tão confusa! Eu não tinha dúvidas quanto a uma coisa apenas: aqueles professores sabiam muito. Tinha um tipo de conhecimento que nós julgávamos quase "sagrado", algo revelado a poucos, um segredo que nossas pobres mentes mortais não conseguiam alcançar. O quadro se enchia de fórmulas e gráficos enquanto nós, embevecidos e prostrados, desenhávamos tudo em nossos cadernos sem saber o que fazer com aquilo. Muitos alunos ficaram com a pergunta engasgada na garganta até hoje: "Ok, professor, você já nos mostrou que sabe tudo. Agora, por favor, poderia nos ensinar?". E era aí que, na nossa imaginação, uma nuvem sobrenatural levantava o professor sobre nossas cabeças e compreendíamos que ele não poderia nos fazer entender, senão perderia pouco a pouco seu poder sobre nós.

Por causa desta minha experiência traumática com a física (e mais alguma aversão inata) eu sempre fugi dela. Contava com a sorte nos vestibulares, mas agora que estamos falando de um concurso que visa a um emprego, "sorte" não basta, e eu tremo só de pensar em me deparar novamente com o mundo tenebroso da física. Mais cedo ou mais tarde isso teria de acontecer.

Quando li o texto bíblico de hoje fiquei pensando nos israelitas, cheios de coisas importantes para aprender. Um enorme livro cheio de leis e leis que foram criadas para orientar sua vida em sociedade e individualmente, sua saúde, religiosidade, relacionamentos, e todos os âmbitos de sua vida secular, foi-lhes dado de repente, e imagino o quão confuso aquilo possa ter parecido a princípio. Eles passaram anos convivendo em meio ao povo egípcio, com aqueles costumes e cultura arraigados em sua própria identidade, em seu histórico de vida, e agora Moisés lhes pedia para fazer muito ao contrário do que estavam acostumados a fazer. Outras coisas eles simplesmente não tinham parado para analisar, porque nunca tinham julgado-as importantes. A forma como tratavam um ao outro, seus hábitos triviais do dia-a-dia, até mesmo sua forma de vestir e comer teriam de ser transformadas. Será que Deus não sabia o quanto isso era difícil para eles? Que isso poderia deixá-os com medo ou até levá-los a fugir dEle?

Sabia. Tanto que pediu que o livro da lei mosaica fosse colocada ao lado da arca da aliança. E o que significava a arca da aliança? A própria presença de Deus entre eles. Deus não estava preocupado em mostrar aos israelitas que tinha poder sobre eles, mas queria usar esse poder para tornar a vida deles melhor, se aproximar deles, fazê-los conhecer Seu amor. Por isso fez com que cada vez que os israelitas pensassem nas regras aparentemente tão difíceis daquele livro da lei mosaica, eles lembrassem que a presença de Deus estava bem ao lado, tornando-os capazes de entender a tudo pelo princípio do amor.

Volto aos meus professores para dizer: Deus não precisa nos mostrar que sabe tudo. Ele poderia ter ditado aos homens um livro com todos os mistérios da vida e da morte, os segredos do universo, a sabedoria da eternidade, a explicação para cada bem ou mal, a filosofia do infinito, a anatomia da onipotência. Mas nós pegaríamos esse livro em nossas mãos e continuaríamos perdidos e nos sentido sós. Deus poderia ter colocado nesse livro todas as provas de que Ele existe e é Deus. Mas isso não nos faria amá-lO. Ele poderia ter nos dado todas as respostas. E então, o que faríamos com elas? Duvido que sequer pudéssemos compreendê-las com nossa mente pequenina.

Então Deus inspirou homens a escreverem a Bíblia. E nela temos tudo, absolutamente tudo que precisamos para aprender a viver bem, conhecer a Deus e amá-lO. É nisso que Ele está interessado, que aprendamos a conhecê-lO, aprendamos Seu plano para nós, o resto não passa de vaidade. Ele não precisa ostentar poder. Tanto que colocou a nossa disposição todo o Seu poder a fim de que o conhecimento da Verdade seja nosso. Tanto que, quando Ele teve de optar, preferiu a cruz à glória. Sua graça não nos olha das nuvens ou de pedestais, ela nos busca! Deus se revela de muitas formas, procurando o caminho para que cada coração, individualmente possa compreendê-lo na essência do que Ele é: amor. Percebe do que estou falando? O Deus Todo Poderoso se mostrando a mim e a você da forma que melhor podemos compreendê-lO: através do amor. Cada vez que enxergamos o amor em nossa vida, estamos vendo a Deus. E através desse amor, nada parecerá difícil ou penoso. Não sentiremos mais vontade de fugir porque não haverá mais medo. E acharemos um sentido elevado em nossa vida para cada nova revelação que Ele nos fizer.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 14

Texto Bíblico do dia:

João 20: 11 - 16- "Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava, abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em hebraico: Raboni! - que quer dizer, Mestre."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Ampliar meu tempo e compromisso para com Ele.

Meditando:

O texto bíblico acima é uma das passagens do Evangelho que mais me comove. Não consigo ler e ler de novo sem deixar de sentir o coração apertado, emocionado, o rosto de Maria aparece nítido em minha mente, e me sinto movida a partilhar lágrimas com ela. Tudo porque vejo um Deus nos amando em toda a nossa fraqueza e pequenez. Lá está a menor de todas as suas servas: uma mulher discriminada entre seus contemporâneos, que ainda carregava no nome (e assim é até hoje), o estigma de "a pecadora", sem dinheiro, sem posição social, nunca cogitando um lugar à direita ou à esquerda de Cristo como faziam outros seguidores, mas se achando tão pequena que já achava um privilégio ouví-lo lá detrás da multidão.

No entanto Cristo a escolhe para ser a primeira a vê-lO depois da ressurreição. Também pudera. Como Cristo não se compadeceria daquela mulher, sentada em frente ao seu túmulo e chorando, chorando... achando que Seu Mestre tinha ido, e com Ele também o sentido da sua pobre vida. Nem mesmo o corpo dEle tinham deixando para que ela o velasse. Era a última coisa concreta que ela tinha em que se apegar. Agora... mais nada! Quanta dor e desamparo! Quanta solidão!! E como eu conheço essa sensação de solidão! É por me identificar com a dor de Maria que me comovo tanto com essa passagem. Quanto mais a Cristo! De um lado, no alto, o céu lhe sorria, com milhares de anjos cantando ansiosos por adorá-lO, com o Pai ao centro abrindo-lhe os braços. Do outro lado, prostrada na Terra...

- Maria!

Ele a escolheu primeiro porque, depois de viver entre nós, Jesus não pode deixar passar despercebida nenhuma lágrima humana. Ele sabe o que isso significa. Ele nos ama de uma forma que todos os outros habitantes celestiais não podem compreender. Por isso eles tiveram que esperar enquanto Ele a confortava com Sua presença. "Maria! Eis a vida! Eis a esperança! O amparo, o sentido, a paz, a comunhão, o amor! Eis-me aqui, Maria! Eu continuo bem perto!"

O que mais me comove na ressurreição de Cristo não é apenas o poder da Deus sobre a vida e sobre a morte, mas o poder do Seu amor sobre todos os atos humanos. Mesmo o mais cruel, o mais terrível, que fez com que os anjos escondessem a face de horror: o assassinato do filho de Deus. Pois depois de sofrer com esse supremo ato vil, Cristo ressurgiu para provar que Seu amor era maior. E como - responda-me se for capaz - como Ele também não poderia ser maior do que o mais terrível dos atos que eu e você cometemos contra Ele?

Enquanto minhas lágrimas caem eu sinto uma necessidade profunda de reafirmar: "Quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8: 35-39)

Ele ainda está aqui. Ele ainda está aí, ao teu lado. Com Seu amor vivo e vivificador vencendo o mais cruel dos nossos pecados. "Por que choras? A quem procuras?" Ele ainda chama nosso nome. E ainda podemos responder "Mestre!", entregando-Lhe uma vez mais o senhorio da nossa vida.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 12

Texto Bíblico do dia:

I Tessalonicenses 2:13 - "Por isso nós também, sem cessar, damos graças a Deus, porquanto vós, havendo recebido a palavra de Deus que de nós ouvistes, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo ela é na verdade) como palavra de Deus, a qual também opera em vós que credes."
Juízes 16: 4 - 6 - "Depois disto se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque, cujo nome era Dalila.Então os chefes dos filisteus subiram a ter com ela, e lhe disseram: Persuade-o, e vê em que consiste a sua grande força, e como poderemos prevalecer contra ele e amarrá-lo, para assim o afligirmos; e te daremos, cada um de nós, mil e cem moedas de prata. Disse, pois, Dalila a Sansão: Declara-me, peço-te, em que consiste a tua grande força, e com que poderias ser amarrado para te poderem afligir."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Permanecer na Palavra de Deus, fazendo dela a minha guarda e do Seu Poder a minha força de modo que o mundo não possa me subjugar nem duvidar de onde essa força provém.

Meditando:

Durante esta jornada, uma das coisas que descobri é que preciso tomar muito cuidado com o que escrevo aqui. É que eu gosto muito de escrever. Me delicio em redigir textos, e quando eles tratam de assuntos que também gosto, o prazer é completo. Mas quando estou escrevendo sobre Deus não estou apenas redigindo um texto. Estou testemunhando, isso é, falando de algo que vivo, ou pelo menos que anseio sinceramente viver. Palavras bonitas e bem escritas podem encantar qualquer leitor generoso. Mas tudo que escrevo aqui tem que visar mais que um propósito estético, tem que ser sem hipocrisia, sem floreios de fachada. Falar de Deus é uma responsabilidade tremenda! E durante estes dias, mais que nunca, tenho sentido Ele me ensinando isso. Ao longo do dia sempre acontece algo que me remete a algo que escrevi, e me vejo imediatamente forçada a reprimir meu instinto pecador e pensar: "Ei, lembra o que você escreveu? Agora coloque em prática, vamos lá". Confesso a vocês que isso não é nada fácil. É constrangedor. É doloroso. É humilhante do ponto-de-vista humano. Me põe em situações constrangedoras. Me faz sentir em meio a um teste. Faz com que eu me depare com situações novas, difíceis, tensas e inesperadas, exigindo resposta rápidas e cada vez mais elaboradas. E o resultado de tudo isso é que eu me sinto MUITO BEM! Esta verificação só me dá mais certeza do quanto Deus se importa comigo e está trabalhando arduamente em meu favor. Como posso entristecer sabendo que só pode haver um grande propósito por trás de tudo isso?

Como diz o texto bíblico, precisamos receber a Palavra de Deus tal como ela é, e não como palavra de homens. Podemos passar anos sentados nos bancos da igreja ouvindo sermões, palestras, seminários, que aceitamos racionalmente, e até concordamos com base na lógica e na sensatez. Mas isso não pode ser apenas palavras de homens. Se for, chegará um tempo em que essas palavras parecerão repetitivas e vazias, quando vazios estamos nós! Quando recebemos a sã doutrina como Palavra de Deus ela opera em nós. Isso quer dizer que nós a internalizamos, vivenciamos, a reconhecemos como algo dirigido diretamente a nós. O resultado é uma transformação efetiva.

Não sei se já aconteceu com você, mas comigo acontece sempre. Quando aprendo uma nova palavra, de uma hora para outra parece que todo mundo resolveu usar a tal palavra. Por exemplo: se eu senti necessidade de usar certa palavra, e indo ao dicionário encontrei como sinônimo perfeito a palavra "tergiversar", nos dias seguintes me encontro várias vezes com a palavra tergiversar. Parece que todo mundo resolveu usá-la de repente! A verdade é que todo mundo já a usava, mas eu a ignorava tranquilamente porque eu ainda não tinha precisado dela, nem sabia que precisaria. Simplesmente pulava a palavra e procurava entender a frase pelo contexto, automaticamente. A palavra não tinha significado para mim, logo eu não a percebia. Do momento que eu a incorporei verdadeiramente ao meu vocabulário, ela ganhou importância especial. E eu não a deixarei mais passar despercebida em nenhum texto onde antes a ignorava.

Com a Palavra de Deus o processo é parecido. Ela não é realmente significativa até que sintamos necessidade dela. Então, um dia, abrimos a Bíblia e lendo aquele velho texto pela 68746ª vez, descobrimos ali algo maravilhoso, extraordinário, fantástico, lindo! Na verdade já ouvimos aquela idéia repetida 687486788 vezes nos sermões na igreja, mas de repente ela ganha um significado especial, porque fala à nossa vida precisamente. A partir daí, passamos a vivenciar a Palavra de Deus, e ela opera em nós mudanças significativas, enriquecendo nosso "vocabulário espiritual". A diferença se fará notar quando ouvirmos a idéia repetida num próximo sermão. Ao contrário do que fazíamos antes de conhecer pessoalmente aquela Palavra, não bocejaremos, não olharemos par ao relógio, não olharemos para o sapato da irmã ao lado. Sentiremos o coração arder e pensaremos "Glória a Deus! É exatamente isso mesmo! Eu sei que é assim, e isso é incrível!". E você ficará ansioso por ouvir aquilo novamente em um próximo sermão.

Sabe, tenho aprendido que constantemente o Maligno nos assalta com pequenas e grandes provações, que Deus permite para que cresçamos. Parece que todo o sentido da existência dele está na frase de Dalila: "Declara-me, peço-te, em que consiste a tua grande força, e com que poderias ser amarrado para te poderem afligir". Acontece que não podemos responder ao Maligno com uma lista de versículos bíblicos que pegamos na concordância atrás da Bíblia, ou uma mensagem bonitinha em formato power point que recebemos pela internet. O Diabo também sabe fazer isso, e faz muito melhor que nós e ninguém pode resistir ao Diabo com lindas palavras vazias. A única forma de respondermos a seus assaltos é com a Palavra de Deus que vivemos, que praticamos, que realmente nos auxilia porque significa muito em nossa experiência espiritual. Essa sim deve ser a nossa grande força, e contra ela, não há nenhum outro poder.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 11

Texto Bíblico do dia:

I Tessalonicenses 4:1-2 - "Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como aprendestes de nós de que maneira deveis andar e agradar a Deus, assim como estais fazendo, nisso mesmo abundeis cada vez mais. Pois vós sabeis que preceitos vos temos dado pelo Senhor Jesus."
Marcos 11:20 - 24 - "Quando passavam na manhã seguinte, viram que a figueira tinha secado desde as raízes. Então Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Olha, Mestre, secou-se a figueira que amaldiçoaste. Respondeu-lhes Jesus: Tende fé em Deus. Em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, assim lhe será feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que o recebereis, e tê-lo-eis."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Ter fé.

Meditando:

Algumas vezes sou dominada por um perfeccionismo teimoso. Agendo datas, programo horários, planejo mil atividades segundo uma ordem rigorosa, simétrica, perfeita conforme meu conceito cartesiano de perfeição. E muitas vezes tudo ocorre diferente do que eu esperava, algumas vezes porque era algo que não dependia só de mim, outras vezes porque eu não estava em condições de realizar aquilo que havia planejado da melhor forma naquele momento, e Deus providenciou para que eu terminasse aquilo depois.

Muitas vezes, por exemplo, desejei escrever um sermão inspirado naquele exato momento. E o sermão simplesmente não saiu. E eu fiquei triste, pensando: "Ô, Deus, cadê a inspiração que me prometeste?". Só depois eu conseguia enxergar que era preciso que eu passasse por certos fatos durante o dia (ou dias) para compreender melhor certas idéias e desenvolvê-las de um modo mais profundo por causa da minha experiência. Ontem mesmo me vi diante do computador querendo escrever esta reflexão a qualquer custo, forçando a mente para organizar e desenvolver idéias que não vinham. E quando o desânimo já começava a bater, veio pensamento: "talvez agora não seja o melhor tempo". De fato, percebi que estava com muito sono, não podia me conectar plenamente com Deus daquela forma e Sua negativa quanto a uma inspiração naquele momento era um claro "Eu sei do que você precisa, e agora você precisa descansar". Fui dormir pensando nisso, e daí veio a inspiração necessária para escrever.

Um dos nossos maiores defeitos é querer entender a Deus segundo nossos conceitos humanos de certo e errado, bom e mau, conveniente ou inconveniente, perfeito e desastroso. É como no canto. Numa das minhas primeiras aulas de técnica vocal minha professora alertou: "Confiem inteiramente na minha orientação. Às vezes você vai achar que está cantando lindo, e estará na verdade horrível. Outras vezes você se ouvirá cantando horrivelmente, e será esse exatamente o som correto a emitir." Na nossa vida espiritual também é assim. Às vezes achamos que estamos fazendo tudo certinho, e que Deus está orgulhoso de nós, mas de repente Ele nos mostra que não está tão feliz assim. Outras vezes achamos que nosso caso não tem solução, que somos os piores pecadores, e então encontramos a Deus em toda a Sua força.

Temos de estar atentos para o fato de que o homem tem deturpado tudo o que Deus nos deu. Ele nos deu alegria, o homem transformou-a em mera diversão. Deus nos deu amor, o homem transformou-o em egocentrismo. Deus nos deu prazer, o homem vinculou-o a autodestruição. Deus nos deu sentidos, o homem inventou meios de saturá-los ao invés de desenvolvê-los. Deus nos deu vida em abundância, o homem preferiu o lucro. Deus nos deu paz, mas não como o mundo a dá. Deus se deu ao homem, o homem se fez ídolo e matou a Deus. Depois de afastar-se tanto dos conceitos originais de Deus, mesmo o homem que quer voltar tem um caminho longo e acidentado a percorrer. Em nenhum momento podemos confiar em nosso próprio julgamento, seja quanto as circunstâncias da vida, seja quanto aos outros, seja quanto a nós mesmos. Temos de confiar apenas nas orientações dEle porque nós, tanto quanto os algozes de Cristo no Calvário, não sabemos o que estamos a fazer. (Lucas 23:34)

Deus respeita profundamente minhas limitações, por menores que me pareçam (a ponto de eu nem conseguir vê-las), e entra em cena quando estou preparada para superá-las. Por isso ao invés de me sentir frustrada, tenho procurado ver o respeito que Deus tem por mim agindo em minha vinda, guiando-me segundo o que Ele sabe ser o melhor para mim, e não o que eu penso ser. Embora nós, por outro lado, temos desaprendido gradativamente a desrespeitar tudo ao nosso redor e a nós mesmos, Ele é capaz de nos reintegrar no Seu plano original e corrigir - também gradativamente - essa grande soma de achismos, enganos e preconceitos que dominam nossa vontade.

Minha oração hoje é que eu tenha fé para permitir que Deus me conduza suavemente em cada pequena situação. Fé para não permitir que eu crie maneiras de tentar impressioná-lO ou parecer grande o suficiente. A figueira que parecia grande o suficiente acabou seca. Andar com Ele é a melhor forma de agradá-lO.

terça-feira, 24 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 10

Texto Bíblico do dia:

Jeremias 17: 7 e 8 - "Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se fadiga, nem deixa de dar fruto."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Acreditar que Ele me busca antes de eu buscá-lO.

Meditando:

Todo mundo conhece aquele ditado que diz que não podemos passar pela vida sem plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Por incrível que pareça, para mim tem sido mais difícil conseguir plantar uma árvore! E não é por falta de tentativas. Desde criança gosto de mexer com plantas. Mas mesmo aquelas experiências de fazer germinar um feijão no algodão úmido, que a gente fazia na escola, não davam muito certo. Quando eu me animava para plantar o pé de feijão no quintal, vinham os pardais e comiam os brotinhos. Outros simplesmente cismavam em não germinar. Até que eu resolvi começar tentando pelos livros...

No entanto faz pouco mais de um mês e ganhei uma planta de presente. Não é uma árvore em cuja sombra se possa abrigar com os netos depois de alguns anos. Na verdade é apenas um arbusto - um pé de capim-santo - que uma amiga me deu porque descobriu que eu gostava do chá de suas folhas. E acrescentou: "Olha, não precisa se preocupar porque essa planta pega fácil, fácil. É só plantar e deixar lá que ele cresce sozinho". Fiquei feliz com a perspectiva e arranjei um cantinho pra o arbusto no meu quintal. E não é que ele "pegou" mesmo? Suas folhas foram crescendo devagar, e em pouco tempo ele já dava para colher suas folhas para fazer chá. Que Beleza!

Mas eu não contava com as chuvas de maio. Recife está sendo inundada por chuvas torrenciais, dando à cidade um aspecto pós-diluviano e nos ilhando em casa - quando a casa também não está debaixo d´água. Meu quintal não escapou. Como a grande maioria do solo recifense é área de mangue aterrado, a terra retém a água facilmente; ela não tem onde penetrar porque o solo já é muito encharcado. Logo, meu quintal virou uma graciosa lagoa, habitada por plantas e bichos estranhos, e onde as muriçocas fazem festa e procriam alegremente. Como você pode imaginar, meu pobre pé de capim-santo está no meio da lagoa, e a essa altura morre afogado, as folhas apodrecendo lentamente debaixo d ´água enquanto eu volto a tomar chá de saquinho.

Tem coisa mais triste para uma planta que morrer afogada? Nós estamos acostumados a vê-las morrer por causa da seca, não por causa da chuva. Por isso, decerto, Jeremias comparou nossa esperança no Senhor com a planta que se nutre junto às águas do Seu amor, e nelas busca força para resistir nos tempos difíceis, de provas e desalento. Mas é triste perceber que algumas árvores da "plantação do Senhor" (Isaías 61:3) estão sujeitas a morrer afogadas - cercadas de bênçãos por todos os lados, mas incapazes de absorvê-las.

Falando objetivamente, me refiro aos cristãos que não aprenderam a ser gratos. Embora até agradeçam a Deus por uma ou outra coisa, estão com seus olhos sempre voltados para o que não têm, para o que não conseguiram, para o que não são, e assim deixam de ver tudo que têm, conseguiram e são, por obra e graça de Nosso Senhor. Falo de uma postura de gratidão frente a vida. Isso não significa agradecer somente esporadicamente, um agradecimento seco e geral. Uma postura de gratidão produz santa curiosidade, que procura em tudo, tudo mesmo que nos acontece, um motivo para louvar a Deus. Trata-se de tentar desvendar a lógica divina, vendo os fatos de nossa vida por uma lente mais ampla, que abrange todo o plano da salvação, e não apenas nossos desejos. É nesse momento que muitas bênçãos se revelam onde antes havia dúvida, temor, problema. Quem assume essa postura, freqüentemente se pega louvando a Deus mesmo depois de um acontecimento aparentemente negativo. O Espírito Santo trabalha na mente de modo a conduzí-la até uma causa divina. E nunca se conforma com um "porque Deus quis". Muitas vezes, percorrer o caminho até a causa dura anos, décadas, uma vida inteira e, creio, levará às vezes metade de uma eternidade. Mas enquanto isso, a postura de gratidão condiciona a crer. E louvar sempre, pela convicção de que somos instrumentos em Suas mãos, e Ele sabe cuidar de nós.

Pensamos que a confiança produz gratidão, mas freqüentemente é a gratidão que produz confiança. É de um coração agradecido a Deus que surge a fé para mover montanhas e subir tantas outras. Por isso que louva tem mais fé, e mais bênçãos: suas raízes espirituais estão sempre prontas a absorver o que o Infinito lhes dá . A terra em que está firmada, jamais se encharcará. Na seca ou no tempo de chuva, esta árvore estará segura, frutificando e crescendo para honra e glória de Deus.

segunda-feira, 23 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 09

Texto Bíblico do dia:

Atos 11: 19-21, 26 - "Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Que as pessoas possam perceber que sou cristã.

Meditando:

Um dos propósitos de Deus na vida dos cristãos é fazê-los desenvolver uma crescente dependência dEle. Quanto mais dependermos de Deus, mais perto estaremos do Seu plano para nossa vida. E nesse sentido, dependência é sinônimo de força e estatura espiritual. Acontece que o ser humano tem problemas em administrar seu instinto de dependência: ou ele simplesmente o elimina, como se descartasse uma fraqueza, ou ele projeta sua dependência em cima de outro ser humano tão ou mais falho que ele. E, nesse sentido, a dependência é perniciosa e má.

Nos meus primeiros anos de fé adventista, eu conheci um pastor que se tornou um bom amigo, embora não tivéssemos muito tempo de conversar. Também, pudera, era impossível falar com ele após o culto, a menos que eu me dispusesse a enfrentar uma fila quilométrica, e mesmo em casa o telefone estava sempre tocando, impedindo qualquer diálogo de se aprofundar. Tenho certeza que se eu pedisse, ele reservaria um tempo para conversar comigo, mas o fato de vê-lo sempre tão ocupado me dava a sensação de que pedir isso seria incomodá-lo, ainda que ele não pensasse assim. Logo, nossas conversas eram curtas (mas proveitosas), e muitas vezes eu fazia companhia a sua esposa enquanto ela o esperava pacientemente na saída da igreja. Vê-la sentada ali, olhando sempre carinhosamente para seu marido sem poder chegar perto para dar-lhe um carinho me comovia bastante. Ela não desejava ir embora sem ele. E enquanto o esperava me falava do quanto era apaixonada por aquele bigodão. Por causa dela ficava mas fácil esperar meu namorado, então ancião, que saía um pouco antes do pastor...

Hoje, pensando uma vez mais sobre a igreja, essas cenas me vieram a mente e encontraram eco no texto bíblico que Deus selecionou para mim. A imagem de dezenas de membros cercando o pastor em busca de resposta me lembraram as primeiras palavras do texto: "Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão". A esposa do pastor, falando apaixonadamente dele, demonstrando com isso estar mais unida a ele que os que estavam mais próximo, me lembrou as últimas palavras do texto: "E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos."

Porque muitos daqueles que cercavam o pastor estavam querendo tratar de assuntos administrativos, assuntos que o pastor seria mesmo a pessoa mais indicada a aconselhar e resolver. Mas muitos outros o buscavam antes mesmo de consultar a Deus, de orar perguntando Sua vontade, de abrir-lhe o coração e entregar-se a Ele. Buscavam o pastor porque dependiam dele para saber o que era certo e o que era errado, mesmo tendo a Palavra de Deus como o melhor guia à disposição de suas mãos. E esse tipo de dependência só os fazia mais e mais dispersos: mesmo obtendo uma resposta sensata do pastor, não teriam condições de praticá-la até que buscasse verdadeiramente a Deus, e isso o pastor não podia fazer por eles, ainda que quisesse. Mesmo homem mais ungido não pode dar a outrem a vida espiritual que estes não têm - e não querem. Quando vem a tribulação eles se dispersam e andam errantes pedindo "ore por mim", sem no entanto acreditar que Deus os ouve, sem colocar os próprios joelhos no chão. Como Deus pode responder a oração de fé de alguém por outro alguém que não O busca? Ele está ansioso por isso, mas não encontra um caminho para percorrer até esse coração!

Isso no entanto não foi o que aconteceu aos seguidores de Jesus. Da dispersão eles resolveram se ajuntar e seguir pregando a Palavra de Deus, dependendo inteiramente dEle para isso. Havia perseguição. Havia as dificuldades de andar em terra estranha, com uma língua e cultura desconhecidas, sem estrutura nenhuma que os acolhesse, mas eles faziam sua parte e deixavam que Deus fizesse a dEle, consultando e confiando, estudando e praticando, pedindo e recebendo. "E a mão do Senhor era com eles". Quando eu olhava a esposa do pastor falando apaixonadamente e unida a seu marido apesar das barreiras entre eles, eu via amor. Quando o povo via os filhos de Deus unidos e falando apaixonadamente dEle ("durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente"), diziam "Vede como se amam!" ( Tertuliano, Apologético, 39,7). Não dividiam apenas um espaço físico e cumpriam ritos, eles estavam unidos apesar das barreiras, e falavam sobre o amor do Deus que sabiam que podia derrubá-las. E por causa desse amor os chamaram cristãos.

Não pode haver amor sem dependência embora haja dependência sem amor, e é isso que faz a diferença entre um cristão e alguém infeliz. Depender de Deus produz união entre os irmãos e vontade de falar dEle para todo o mundo. Produz sensatez e discernimento para tomar decisões ao reconhecer nelas a Vontade de Deus. Produz segurança de estar servindo ao Deus Vivo por amor e sentido uma enorme alegria de fazê-lo. Produz os dons do Espírito, e uma ânsia para buscar Sua voz, ouví-la e seguí-la. Nisto está o amor. Quando nossa igreja estiver vivendo esse amor, unida e pregando as Boas Novas de um Deus que se conhece pessoalmente, o mundo saberá novamente o que é ser cristão.

domingo, 22 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 08

Texto Bíblico do dia:

II Tessalonicenses 3: 1 - 5 - "Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada. como também o é entre vós, e para que sejamos livres de homens perversos e maus; porque a fé não é de todos. Mas fiel é o Senhor, o qual vos confirmará e guardará do maligno. E, quanto a vós, confiamos no Senhor que não só fazeis, mas fareis o que vos mandamos. Ora, o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus e na constância de Cristo."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Manter meu coração no amor de Deus e na constância de Cristo, para que a Palavra do Senhor se propague e seja glorificada.

Meditando:

Hoje nós decidimos caminhar. Demorou, mas decidimos. Já faz uma semana que não fazíamos nossa caminhada vespertina por causa das chuvas, que ainda estão caindo, provocando um magnetismo quase irresistível entre os corpos e suas respectivas camas. Nenhum de nós dois estávamos muito motivados a sair de casa, mas algo nos impeliu. E lá fomos nós.

Encontramos com uma lua linda. Primeiro, espreitando curiosa numa fenda entre duas grossas nuvens, depois se mostrando completa e perfeita na abóbada azul. Encontramos com a lua, e Deus estava nesse encontro. Encontramos também inesperadamente com uma árvore que produz minhas flores preferidas. E Deus estava nesse encontro. Por fim, encontramos com uma irmã querida, que já não víamos há algum tempo, e Deus estava mais uma vez na beleza desse encontro.

Ela nos contou que havia orado a Deus durante a tarde pedindo que Ele lhe mostrasse que ainda havia um modo de voltar ao caminho que Ele traçou para ela. Contou do modo como sua vida tem sido uma sucessão de tribulações nos últimos tempos, como tem se sentido fraca, e tem tido saudades de Deus. Ela nos disse que sua imagem de felicidade ficou dos momentos em que nos reuníamos para estudar a Bíblia - algo tão simples! - e suas lágrimas falaram que ela ainda desejava ter de novo aquela paz. Quem passasse por aquela avenida talvez não compreendesse o quadro: ela chorando, nós dois sorrindo. Mas estávamos os três profundamente agradecidos a Deus. E Ele estava ali, onde sempre esteve: no nosso caminhar.

"Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem é do homem que caminha o dirigir os seus passos." (Jeremias 10:23). Não precisamos necessariamente saber para onde estamos indo, mas com Quem estamos indo. Nossa parte é prosseguir caminhando, e o Espírito Santo nos fará ver a Deus ao longo do caminho nos encontros formidáveis que prepara para nós. "Quando caminhares, isso te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo."(Provérbios 6:22). Só temos que tomar uma decisão: caminhar. Não precisamos sequer saber onde estamos pisando. Estamos, de fato, caminhando sobre as palmas das mãos de Deus. "E guiarei os cegos por um caminho que não conhecem; fá-los-ei caminhar por veredas que não têm conhecido; tornarei as trevas em luz perante eles, e aplanados os caminhos escabrosos. Estas coisas lhes farei; e não os desampararei." (Isaias 42:16). Assim, quando o caminho parece confuso, andaremos ainda, sabendo que se pararmos, aí sim, estaremos perdidos.

Lembro que quando era criança, gostava de andar com meus primos e primas pelas dunas da praia de Muriú procurando pequenos "tesouros". Aquela paisagem de areia a perder de vista, cheia de vales e montes se abraçando nos entonteciam como um labirinto. Nós não estávamos preocupados com uma rota, mas com um objetivo: explorar a paisagem. E cada surpresa - uma raposa, um arbusto de frutas silvestres, uma árvore morta com um ninho em seus galhos - nos movia a caminhar mais e mais ainda, sem cansaço. Ao final da minha jornada espiritual, quero lembrar do meu caminho assim: um coleção de tesouros divinos que apreendi ao longo do caminhar. Não diviso início ou fim, quando contemplo o Alfa e o Ômega. Apenas caminho. Verdade e Vida me acompanharão. "Bondade e Misericórdia me seguirão todos os dias" (Salmo 23:6).

sábado, 21 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 07

Texto Bíblico do dia:

Lucas 24:28 - 31, 44 e 45 - "Quando se aproximaram da aldeia para onde iam, ele fez como quem ia para mais longe. Eles, porém, o constrangeram, dizendo: Fica conosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. Estando com eles à mesa, tomou o pão e o abençoou; e, partindo-o, lho dava. Abriram-se-lhes então os olhos, e o reconheceram; nisto ele desapareceu de diante deles. (...) Depois lhe disse: São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;"

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Estar sob a sombra da Cruz de Cristo, onde eu possa estar segura ao contemplá-la.

Meditando:

Uma das frases que mais me chamou atenção nas meditações desta semana tem a ver com o senso de primazia que damos a Deus na nossa vida, especialmente na forma como a nossa religião se manifesta nas nossas atitudes diárias. É uma frase do Pr. Morris Venden que diz: "você pode ter religião suficiente para torná-lo miserável, mas não suficiente para ser salvo". Forte não? Mas pude viver seu significado durante esta semana. Se a minha religião não serve como meio de me "religar" à Fonte da Vida eu me deixo consumir por meus problemas e preocupações até me sentir o mais miserável dos seres: "Eu não sou crente? Por que então Deus me abandonou e não me escuta, e não faz alguma coisa?". Esta pessoa não quer que Deus o salve, quer que a religião o salve. E para tanto procura cumprir todas as suas regras direitinho, sem contudo ver bênção alguma se manifestando em sua vida. No entanto, se a minha religião implica num compromisso de estar mais e mais perto do Senhor, eu poderei ver Seu poder atuando para a salvação da minha vida mesmo quando a olhos humanos tudo parecer ir mal.

No entanto, alguns cristãos podem se sentir tentados a usar a religião como forma de barganhar com Deus, de suprir frustrações da vida secular, de construir uma aparência perante a sociedade, de cumprir uma trajetória traçada por sua família, e tantas outras finalidades que acabam por arruinar a vida espiritual. Podem até mesmo esquecer qual a finalidade da religião que professam e simplesmente se acostumarem com ela enquanto ela lhes for cômoda. Quem experimenta esse tipo de vivência religiosa nunca poderá ver a Deus.

Observemos um episódio da vida de Jesus que trata desse assunto. Em Marcos 8: 11, Jesus é interpelado pelos fariseus, que lhe pedem um sinal do céu para que Ele comprove que Ele era um Messias. O texto me fez pensar na expressão do rosto de Jesus perante eles. Em como Ele deve ter ficado impaciente em lhes mostrar o quão mais profundo era o que Deus tinha a lhes dar. O quão decepcionado com aquela geração Jesus ficou, e tomado de tristeza por não poder convencer aqueles corações endurecidos da Verdade. Cristo pode se colocar diante de nós, mas não pode nos obrigar a vê-lO. Imagino Jesus deixando-os com o semblante abatido, tomando o barco com seus discípulos e olhando para eles com uma esperança doída. Então os discípulos sentem falta de pão e começam a se preocupar. Os mesmos discípulos que tinham visto Jesus multiplicando alimento para milhares de pessoas, agora concentravam o pensamento em seus estômagos. Eles sabiam que Jesus podia lhes suprir todas as necessidades. Mas não confiavam que Jesus as via. Estavam com o Cristo Vivo em pleno ministério de salvar a humanidade, mas eram eles que não viam! E agora eu posso ver Jesus com os olhos se enchendo de lágrimas, aquela vaga esperança anda mais longe, e com a voz embargada, mas ainda cheia de amor, dizendo: "Tendo olhos não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis?" (v. 18)

Naquele momento os discípulos estavam envolvidos pelo "fermento dos fariseus e de Herodes", ou seja, vivendo uma religião superficial, desfocada do seu real sentido, inapta para religá-los às coisas de Deus, porque fundamentada em bases meramente humanas.E as palavras de Cristo remetem ao Salmo 115: 5 - 7: "Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta." Um salmo que fala de idolatria. Mas é exatamente isso que a falsa religião faz com o ser humano: transforma-o em ídolo de si mesmo. Um ser com os sentidos tão longe de Deus, tão desvirtuado de sua verdadeira condição e tão vazio que comparável a um objeto inanimado. Não vêem a Deus porque não tem olhos para Ele, apenas para si mesmos!

Que diferença da verdadeira religião, aquela que nos orienta para Deus: "Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo. O Senhor tem-se lembrado de nós, abençoar-nos-á; abençoará a casa de Israel; abençoará a casa de Arão; abençoará os que temem ao Senhor, tanto pequenos como grandes." (Salmo 115: 11-13). Confiança, fé, comunhão, gratidão, alegria, paz, bênção: o resultado de encontrar a Cristo na religião que se vive, e que se vive diariamente, nas pequenas coisas também. A verdade é que todas as coisas terrenas começam a parecer mesmo muito pequenas quando nos aproximamos do Altíssimo.

Que o Senhor abra não só os nossos olhos mas nosso coração para recebê-lO em nosso espírito, e assim obtermos vida - não essa vidinha que o mundo nos oferece -, mas vida em abundância.

sexta-feira, 20 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 06

Texto Bíblico do dia:

Colossenses 3:15-17 - "E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Administrar com sabedoria os meios com que Ele me abençoou para que eu tenha uma vida feliz: tempo, saúde, inteligência, religião, etc.

Meditando:

Hoje é o sexto dia de jornada. Na cultura judaica, seis é um número de inquietação. E foi assim que cheguei até este dia: com uma paz inquieta se revolvendo cá dentro do peito. A semana que passou trouxe grandes bênçãos, mas também grandes preocupações. Graças a Deus, e a este contato com Ele, essas preocupações começaram a não me parecer mais tão grandes assim. Durante várias vezes ao longo de cada dia, me peguei me policiando para não focar o pensamento nos problemas que não dependiam de mim, e deixar que Deus realmente tomasse conta deles.

Então chegou o sexto dia. Mas chegou justamente no sétimo dia da semana, e pude ouvir a voz de Deus me dizendo: "É hora de descansar!". Ele mais que ninguém, mais que eu mesma, sabia o quanto eu estava cansada. Tanto de lutar para fazer algumas coisas, como de lutar para não tentar fazer outras coisas, entre essas últimas, aquelas que eu Lhe entreguei. Por isso me recebeu no sexto dia de jornada com o sétimo dia santificado, e também com as resposta de que eu necessitava para vivê-lo em paz. No fim da sexta-feira eu e meu marido obtivemos duas respostas que irão resolver grande parte de nossas preocupações. E eu me senti como a criança que recebe o presente do Pai na melhor hora que poderia haver, embora já o aguardasse ansiosa há tempos.

Todos os dias desta semana a meditação tem nos convidado a nos revestirmos da completa armadura de Deus. Isso é convite implícito a lutar. Mas quando observamos o texto bíblico que fala da armadura de Deus, em Efésios 6 - 10 - 18, observamos que o apóstolo Paulo dá grande ênfase ao "permanecer firmes". A idéia é repetida três vezes nessa citação, e no verso treze ele explica: "para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis". Ou seja, não basta estar preparado para lutar, mas permanecer firme depois que a batalha acabar.

Posso imaginar o quanto era difícil para um soldado romano lutar com todo aquele aparato. Quem já viu uma armadura dessas deve ter se espantado em como um homem poderia lutar com os movimentos tão limitados por um equipamento pesado e espesso em volta de todo o seu corpo. O primeiro desafio para o soldado ao vestir a armadura era manter o equilíbrio. Depois, coordenar cada um dos seus equipamentos, de modo a usá-los em seu favor, pois caso eles não fossem bem utilizados só apressariam sua derrota. Por fim, no confronto com o inimigo, ele deveria empenhar toda a sua força e concentração para manter-se de pé e não ser atingido. Pois ainda que ganhasse a batalha poderia sair dela com ferimentos mortais, que mais tarde o levariam a perder a vida. Por isso não bastava ao soldado usar uma armadura para ir à guerra, mas passar por um período de aprendizado a fim de desenvolver habilidades e táticas imprescindíveis a sua vitória.

Esses ensinamentos também estão implícitos no texto de Paulo sobre a batalha cristã. Diariamente travamos batalhas árduas contra as forças do Mal. E ao nos revestirmos da armadura de Deus devemos ter equilíbrio, discernimento para usar as armas certas no momento certo, sabedoria para saber nos defender, força e concentração para não nos desviarmos de nossos objetivos, e principalmente sensatez para não nos colocarmos no terreno de Satanás de tal forma que ele consiga nos atingir e, mesmo não provocando uma derrota imediata, consiga nos impingir uma ferida que pouco a pouco tirará a vida de nosso espírito. Tudo isso só pode ser conseguido se ouvirmos atentamente as instruções do Grande Comandante durante toda a batalha... não adianta querer tomar a armadura de Deus para lutar sem Ele à frente.

Depois de termos vencido tudo, precisamos permanecer inabaláveis. O meu cansaço no começo do dia me fez meditar nisso. Não basta apenas lutar, mas saber descansar à sombra do Onipotente. Não basta apenas ir para a batalha com a armadura de Deus, mas deixar que o próprio Deus nos ensine - ao longo do tempo - a batalhar com ela.

quinta-feira, 19 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 05

Texto Bíblico do dia:

João 6: 47-51 - "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

"Não entristeçais o Espírito" (Efésios 4:30): continuar deixando que Ele faça a obra que começou em mim.

Meditando:

E não é que o Espírito Santo me ajudou a conseguir mesmo compor uma música? Foi a minha primeira composição. Embora eu aprecie e estude música há algum tempo, me considero chata demais para me permitir compor. Mas quase de brincadeira a melodia foi saindo e... aqui está. Vou trabalhar sua harmonia, acompanhamentos e ver se consigo mostrá-la à Igreja. A letra escolhida foi uma citação de Ellen White que diariamente a meditação nos aconselha a decorar. Como não sou boa nisso e meu marido menos ainda, acredito que a música nos ajudará bastante:

"Quem usa a completa armadura de Deus e separa algum tempo cada dia para meditar e orar e também para estudar as Escrituras, estará ligado ao Céu e terá uma influência transformadora e salvadora sobre os que o rodeiam. Terá importantes pensamentos, nobres aspirações e claras percepções da verdade e da obra de Deus. Anelará pela pureza, pela luz, pelo amor, e por todas as graças celestiais." (Testemonies, vol. 5, pág. 112)

Mais uma prova do que refletir nas coisas de Deus pode nos levar a fazer: algo bom que jamais nos imaginaríamos capazes de fazer. Lembro que a primeira vez que tentei compor foi quando estudava piano com um amigo meu, e ele acreditava que eu tinha talento (era tão generoso...), por isso me incentivava a compor letras e músicas. Quanto às letras eu já tinha alguma familiaridade porque gosto muito de escrever. Mas quanto à música... embora eu até tenha tentado, o resultado foi desastroso. E antes que eu a terminasse, meu generoso amigo que também era sincero, me disse que aquela música estava positivamente muito ruim. O fato virou motivo de risada, mas também me serviu para guardar uma certa reserva quanto a arte de compor. Ainda mais depois que ampliei meus horizontes musicais, vindo a conhecer melhor os grandes mestres da música erudita: "como alguém pode se atrever a compor depois de ouvir Bach?", eu me perguntava.

Porém, enquanto era orientada a refletir na Palavra de Deus me ocorreu que eu poderia tentar compor algo para Cristo. E não tinha que ser uma sinfonia, um concerto, uma sonata, um oratório, não precisava sequer ser erudito. Só uma música que traduzisse meu sentimento diante daquelas palavras inspiradas. E neste ato de reflexão, o Espírito me falou ao coração e meu deu uma pequena mas significativa (ao menos para mim) graça.

O que é refletir? De acordo com a análise etimológica feita pela filósofa Marilena Chauí, refletir é uma palavra formada pelo radical "re", que quer dizer novamente, e "fletir", que vem de flexão, flexionar, um verbo que sugere ação. Refletir seria assim, literalmente, se debruçar novamente sobre uma mesma idéia. Refletir sobre a Palavra de Deus, seria então deter-se sobre Ela, revendo antigos (pré) conceitos e formulando novas maneiras de agir em conformidade com Seus princípios. No ato de refletir, o pecador pode encontrar na Bíblia uma resposta nova e poderosa para vencer suas fraquezas, e ainda que ache que jamais conseguiria fazê-lo, o Espírito Santo o convence de isso é possível e faz o trabalho nele. A parte daquele pecador foi apenas buscar a Bíblia para aplicá-la às suas necessidades, todo o trabalho duro é obra de Deus no espírito que se abre para Ele.

A experiência de refletir na Palavra de Deus não nos conduzirá de pronto a um caráter igual ao de Deus. Assim como eu não poderia na minha primeira composição fazer mais que um hino singelo. Mas de passo em passo vamos permitindo Deus desenvolver nosso ser novamente à Sua semelhança, e cada conquista será sentida com indizível prazer. Pode ser uma pequena vitória, a que o tempo acrescenta harmonia e acompanhamento celestiais. Pode ser algo que só você saiba, a sua melodia particular. Pode ser algo que as pessoas de alguma forma percebam que mudou em você, e se ponham a imitar, como quando aprendemos uma canção que nos cativa. O fato é que a reflexão - e a ação que indubitavelmente decorre do ato de refletir - sempre nos aproximará um pouco mais de nosso Pai. A ponto de, quando chegar ao Céu, você ser capaz de reconhecer de forma bem familiar a música dos coros angelicais.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 04

Texto Bíblico do dia:

Malaquias 3:16 - "Então aqueles que temiam ao Senhor falaram uns aos outros; e o Senhor atentou e ouviu, e um memorial foi escrito diante dele, para os que temiam ao Senhor, e para os que se lembravam do seu nome."
Salmo 100 - "Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra. Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico. Sabei que o Senhor é Deus! Foi ele quem nos fez, e somos dele; somos o seu povo e ovelhas do seu pasto. Entrai pelas suas portas com ação de graças, e em seus átrios com louvor; dai-lhe graças e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom; a sua benignidade dura para sempre, e a sua fidelidade de geração em geração."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Cantar ao Senhor um cântico novo. Não deixar que as cordas do meu espírito envelheçam...

Meditando:

A meditação de hoje propôs algo instigante: compor música. O propósito é ajudar a memorizar versículos e citações importantes, mas como estudante de música eu não poderia deixar de tecer mais umas considerações sobre o assunto pois de Jubal (Gênesis 4:21) até Beethoven percorreu-se um caminho de descobertas incríveis que eu me ponho a imaginar.

Imaginem o Homem pela primeira vez diante de um sistema organizado de sons a que hoje nós chamaríamos escala musical. Deus os deu de presente em alguma manhã iluminada. Você já teve um pianinho de brinquedo quando era criança? A simples existência de sete notas musicais parece algo maravilhoso para quem as experimenta pela primeira vez. Não precisa ter nenhum sentido musical, não precisa ser sequer bonito, só precisa soar para começar a prender o espírito. Depois o ouvido começa a pedir algo mais. Então o Homem percebe que os sons se comunicam. Que com aquelas sete notas de uma escala ele pode criar uma melodia agradável, e depois até combinar duas melodias se conseguir tocá-las uma em cada mão. Empolgado, ele experimenta juntar ainda outras melodias ao mesmo tempo - alguns mais afoitos chegaram a juntar até 64 vozes, cada uma cantando algo diferente, numa só música. Até que ele percebe uma relação horizontal entre essas "linhas melódicas", e resolve juntar alguns sons que lhe parecem harmônicos para criar acordes. Percebe certas leis que regem essas relações. Fascinante! O Homem então mergulha num universo de formas e sons que lhe permite se expressar com uma riqueza que as palavras jamais poderiam alcançar.

Não é preciso que alguém passe por todas essas etapas que a humanidade passou para perceber que com grupos de sete sons definidos pode-se obter verdadeiras obras-primas. E assim a música prossegue junto com a história do próprio Homem, comovendo-o tanto quando ele a cria como quando ele a escuta. Algumas são bem simples, outras profundas, algumas você guardou porque marcaram algo especial, outras porque ouviu por aí e aquilo acabou ficando grudado em sua mente. Quantas músicas diferentes você ouviu em sua vida? Quantas a humanidade já inventou? Seria capaz de mensurar o potencial criativo de todas as culturas musicais do nosso planeta? No entanto tudo começou com um pequenino grupo de sete sons, tal qual no seu pianinho de brinquedo...

Embora eu tenha simplificado bastante o intrincado mundo da teoria musical, acho que já posso lhe fazer uma pergunta. Existiria música se o Homem tivesse continuado com aquelas sete notas em suas mãos e não as explorasse mais e mais suas possibilidades? De que adiantaria que Deus tivesse dado esses preciosos sons de presente, se o Homem não se importasse em os usar? Como uma criança com seu pianinho de brinquedo, o homem, com o passar do tempo, se cansaria de ouvir aqueles sons desconexos até o ponto de não aguentá-los mais. É verdade que os pais se cansam mais rapidamente que as crianças de seus pianinhos... mas chega uma hora que, se a criança não tiver estímulo para ir além, aquelas notas serão deixadas de lado e nunca virarão música. Imagine que ela aprenda a tocar "Cai, cai balão" e dê um concerto incrível para seus pais orgulhosos. Depois de tocar "Cai, cai balão" pela 8567ª vez, ela começará a ficar entediada. E seus pais enlouquecidos. A experiência musical acabará aí. A menos que ela se abra para novas possibilidades...

Infelizmente isso não é o que acontece na maioria dos casos. Os pais se dão por satisfeitos em dizer aos vizinhos que seu filho toca maravilhosamente "Cai, cai balão" e a criança se sente atraída por brinquedos mais novos: uma bicicleta, um pobre cachorro, o aparelho de som da sala...

Sabe, o que mais me fascina em Davi, é que ele era um homem que não se cansava de aprofundar suas experiências. Compunha um salmo e logo se sentia inspirado a compor outro e mais outro, e nunca dar por esgotadas as possibilidades de expressar a beleza musical e poética. O texto bíblico de hoje me mostra um Davi que lembrava de Deus, mas lembrava com fervor. Consigo imaginar seu semblante de felicidade enquanto entoava o salmo 100 a Deus. E seu sentimento não era mais ou menos forte em qualquer um dos seus outros hinos. Seja tristeza ou alegria, havia sempre algo pulsando firme dentro do seu peito. Por isso a Casa de Deus era um lugar a que ele se dirigia com ansiedade e imensurável prazer.

Esse talvez seja o sonho de algum cristão de hoje em dia, que vai para a igreja só pelo hábito, mas entra e sai sentindo um grande vazio, carregando sua Bíblia como se nela levasse o peso de séculos... Passados os primeiros meses de recém-convertido, ele começou a experimentar a sensação de conhecimento. Já conseguia dizer alguns versículos de cor, lembrar de textos relacionados a certos assuntos, expor mesmo que resumidamente o fundamento das doutrinas em que cria. E isso era bom! Mas com o tempo, ele começou a desenvolver “super poderes”: adivinhar o sermão do pastor pelas primeiras frases, prever todas as falas e jargões da doxologia com tédio, saber qual hino seria cantado desanimadamente pela primeira nota tocada ao piano, e sabia até onde a igreja dizia um potente “amém!” durante a oração, só pela entonação de quem orava. E isso não é era bom. Com o passar dos anos, começou a experimentar mais e mais freqüentemente uma incômoda sensação de “déjà vu” durante os cultos, e a cada nova mensagem apresentada o primeiro impulso era pensar: “de novo!...”. Permaneceu na igreja por costume, mas no íntimo sentia que nada ali parecia mais ter sentido para ele.

E não haveria de ser assim? Imagine passar dez anos ouvindo "Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si" três vezes por semana, durante algumas horas. Quem pode se empolgar com isso? Quem pode ver sentido nisso? Está lá o pianinho capenga, já desafinado, tocando sempre as mesmas notas que não dizem nada. E eu aqui esperando que essa não se torne a nossa história.

Como manter a alegria pulsante de Davi depois de anos e anos indo à mesma igreja regularmente? Como manter aceso o interesse pelo mesmo conteúdo, muitas vezes explanado da mesma forma pelas mesmas pessoas ao longo do tempo? Como sentir-se motivado a "apresentar-se diante do Senhor com cânticos", depois de ouvir os mesmos cânticos décadas a fio? Bem, a resposta é simples. Basta perceber o quão profunda pode ser a religião que Deus nos deu de presente e vivê-la de modo a ter dela tudo o que ela pode lhe dar.

Como conseguir agora transformar o "Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si" numa sonata de Beethoven?? De que modo a religião com cara de gasta pode tomar nova vida e se renovar a cada dia com maior força e beleza, graça e fascinação? Ainda por analogia, imagine que a música que você ouve sai de você mesmo! Você é o instrumento! Deus lhe deu tudo de que você necessita para ter um relacionamento riquíssimo com Ele e produzir as mais belas composições! No entanto não tente fazer você sozinho o trabalho do compositor. Um piano não pode tocar a si próprio, não importa que ele tenha cordas afinadíssimas ou teclas de marfim. É o Espírito Santo que vai transformar suas notinhas desconexas em uma sinfonia celestial. "Não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo" Tito 3:5.

Falando de forma bem clara, temos que nos achegar diariamente à Palavra de Deus e pedir que o Espírito Santo nos mostre como aquelas palavras - as mesmas que estão lá há milênios - podem nos fazer um homem novo hoje. E quanto mais repetitivas certas idéias parecem, mais Deus aponta para nossa necessidade de trabalhar com elas. Mais precisamente? Peça a Deus que lhe ajude a praticar tudo o que você já sabe, ou acha que sabe, mesmo aqueles princípios tão elementares como um "Cai, cai balão". Se se propor a fazer um terço do que você viu e ouviu na Bíblia, já ocupará todos os dias da sua vida com algo novo e desafiador, e começará a achar com mais e mais constância facetas novas e impressionantes nas mesmas palavras. Se com sete notas um bom compositor pode fazer uma sinfonia inteira, imagine o que Deus pode fazer com Sua Palavra em nós! "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. A renovação de que necessitamos está em praticar a Palavra de Deus, não por nossos próprios esforços, mas através de uma atitude de humildade e entrega que permite ao Espírito Santo nos fazer instrumentos em suas mãos. E compor com nossas vidas, a cada dia, uma obra de arte mais bela. "Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia." II Cor. 4:16.. À medida que formos percebendo Seu trabalho em nós, não nos permitiremos jamais ser meros sons medíocres e desconexos outra vez. Pois descobriremos que fomos criados para muito mais.

Minha oração hoje é que eu seja capaz de executar o cântico novo que Deus preparou para minha vida neste dia, com as Palavras que Ele me mostrou. E cada semelhante meu o escute soando agradavelmente aos seus ouvidos.

terça-feira, 17 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 03

Texto Bíblico do dia:

Oséias 6:1-6 - "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele despedaçou e nos sarará; fez a ferida, e no-la atará. Depois de dois dias nos ressuscitará: ao terceiro dia nos levantará, e viveremos diante dele. Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra. Que te farei, ó Efraim? que te farei, ó Judá? porque o vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho que cedo passa. Por isso os abati pelos profetas; pela palavra da minha boca os matei; e os meus juízos a teu respeito sairão como a luz. Pois misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos."
João 1:43-45 - "No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me. Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor, com um amor constante e bem alicerçado na Sua Palavra.

Meditando:

Vontade de orar. Foi assim que terminei o dia anterior. E esta vontade que vem crescendo desde o primeiro desta jornada teve hoje a oportunidade de ser posta em prática.

Acabo de chegar da igreja onde fui pregar. Antes do sermão foram feitos pedidos de oração e logo em seguida, uma irmã propôs que orássemos dez minutos de joelhos e terminássemos com um Pai-Nosso. "Dez minutos?", pensei, "este foi o tempo que planejei para a oração no culto pela manhã, que coincidência!". Quando dialogamos com alguém próximo e querido nem vemos o tempo passar. Dez minutos parecem um segundo. Muitas vezes virei noites conversando com amigas minhas. E o que são dez minutos com Deus para um cristão que ainda não sabe orar? Isso não é algo difícil de acontecer. A Bíblia diz que o Espírito Santo se compadece de nós e intercede fervorosamente porque nós não sabemos pedir (Romanos 8:26). O pior é que muitos de nós nem sabemos que não sabemos pedir.

Quando isso acontece, dez minutos de oração viram um relatório: coisas para agradecer, coisas para pedir perdão, coisas para implorar, e... e o que mais mesmo? An... Existem algumas frases feitas que são boas muletas para essas horas: "Obrigada pela vida, pelo ar que respiro, pelo alimento, pelo Teu amor, pela vida, ih, essa já foi...". "Tu és um Deus maravilhoso, grandioso, vitorioso, glorioso, majestoso, poderoso... e mais um monte de adjetivos terminado sem `oso´". E os dez minutos não passam. Tem outra lista boa para preencher o tempo: "Abençoa meu pai, minha mãe, minha irmã, meu amigo, o vizinho da prima da cunhada do irmão do meu chefe...". Os problemas das outras pessoas ocupam boa parte da oração. E se ainda assim não se preencher os dez minutos, pode-se dizer amém e ficar de de joelhos, olhos fechados, pensando na louça que tem para lavar em casa...

Dez minutos apenas! Será que consigo usá-los para falar tão somente de mim para Deus? A oração intercessória tem seu lugar também, mas será que consigo ter um tempo só para colocar diante de Deus o meu espírito, mente e coração abertamente? Consigo fugir das frases feitas e estabelecer um diálogo com Ele? Se sim, eu também deixo tempo em minha oração para silenciar e ouvir a Sua voz. Pois se eu não deixo Ele falar comigo, não é um diálogo, é um monólogo! Consigo me concentrar no silêncio, no vazio, e deixar que Ele suavemente o preencha com inspiração e paz? Se sim, não conseguirei dizer amém antes de dez minutos. Eles ainda serão pouco. Nenhum tempo é grande o suficiente para caber o Deus que eu conheço. Mas conheço?

Orar é uma forma de conhecer a Deus, e não um sacrifício. Por isso não faz sentido orar como quem paga penitência. O texto bíblico de hoje deixa isso claro. E somente se eu o conhecer, através da oração e da leitura de Sua Palavra, serei capaz de REconhecê-lo na minha vida, na minha religião, nos meus sonhos, nos meus relacionamentos, palavras, objetivos. "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor": conheçamos e O reconheçamos cada vez que Ele se revelar a nós. Foi assim com Felipe. Jesus não o hipnotizou para que ele O seguisse. Felipe já conhecia Jesus através da Lei e dos Profetas, certamente já estava acostumado com o "timbre" da voz de Deus na suas orações e diante de Cristo foi capaz de reconhecê-lO. Por isso não foi fácil aceitar seu convite e seguí-lO.

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor." I Coríntios 15:58. O amor constante que Deus expressa anelar, pela boca do profeta Oséias, é resultado de uma entrega também constante, diária e sem reservas. Fomos orientados a respeito de duas coisas muito importantes quando a oração que deve ser elevada a Deus durante esta jornada. A primeira é que depois de nos entregarmos a Deus em oração, sem pressa, em atitude de meditação, devemos entregar pelo menos cinco pessoas em especial, que mais tarde serão convidadas a participar de um evento que reunirá a todos. Com isso o nosso tempo de oração hoje aumentou significativamente. Também não tive pressa em escolher as pessoas por quem estou orando, e não restringi a pessoas que poderão participar desse evento, mas a todos a quem me senti movida a orar. Quando nos enchemos do Espírito queremos, naturalmente, espalhar Seu perfume ao nosso redor. A segunda coisa importante é que orar por coisas materiais é apenas uma prova de falta de fé . Não devemos estar ansiosos por isso como se não conhecêssemos a Deus (Mateus 6:32). Ele sabe de nossos anseios financeiros, nossas necessidades seculares, e agora queremos nos propor a edificar o espírito. Portanto embora seja saudável contar-Lhe tudo que passa em nosso coração, devemos resistir à tentação de concentrar nossa atenção na matéria, mendigar-Lhe respostas imediatas ou insistir em nossa vontade, mas devemos buscar em primeiro lugar o Seu Reino e deixar que todas as outras coisas nos sejam acrescentadas. Não se deter na superfície. Não considerar nunca esta jornada como uma forma de barganha comportamental esperando que algo aconteça imediatamente. Não crer em vitória instantânea.

Ainda há muito para ouvir de Deus. Mas hoje já senti uma diferença significativa na hora de fazer o meu sermão. As idéias fluíram com muito mais clareza, com bem menos esforço intelectual, e em bem pouco tempo consegui organizar a mensagem de forma satisfatória. Na exposição a manifestação do Espírito Santo foi notória, estava no semblante das pessoas. Deus me deu já neste terceiro dia o privilégio de achar natural ser usada como instrumento em Suas mãos - embora eu nunca deixe de me maravilhar com isso. E quer fazer-me mais que um instrumento, mas uma morada do Seu Espírito. Foi o que sussurrou em meus ouvidos durante aqueles dez minutos de oração...

segunda-feira, 16 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 02

Texto Bíblico do dia:

Lucas 9:23 - 27 - "Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará. Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se, ou prejudicar-se a si mesmo? Porque, quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos. Mas em verdade vos digo: Alguns há, dos que estão aqui, que de modo nenhum provarão a morte até que vejam o reino de Deus."

O programa de Deus para a minha vida hoje:

Que as pessoas possam ver em mim um reflexo do que virá a ser o Reino dEle, e eu descubra esse Reino escondido em bênçãos no meu cotidiano.

Meditando:

A primeira constatação do dia é que seguir a Jesus não é fácil MESMO. Se fosse, ele não teria usado uma cruz como ilustração. E eu não acordaria com tanto sono hoje! Resolvemos acordar meia hora mais cedo para fazer nossa meditação com mais tranqüilidade. Acontece que fui dormir três horas mais tarde por causa da parte do trabalho que minha amiga da faculdade não fez, e eu tive de fazer. Até ontem isso não parecia tão significativo, mas às cinco e meia da manhã de hoje...

Seguir a Cristo não nos guarda de incidentes desse tipo no nosso relacionamento com amigos, familiares. Acabei saindo de casa mais chateada por causa de uma pequena discussão que tive com meu marido por causa da tinta da impressora: mais uma vez, o bendito trabalho! Meu humor, francamente, não estava nada bom. Mas antes mesmo de chegar à parada de ônibus eu lembrei do programa de Deus para a minha vida hoje e senti-me constrangida. "Ok, Senhor", eu orei, "já entendi que o tema que Tu separastes para mim hoje é: pessoas. Um tema muito pesado para um segundo dia, não? Por favor, me ajude que por eu mesma não sinto que conseguirei chegar ao fim de dia com meu humor restaurado. Agora só consigo pensar num modo de deixar claro à minha amiga, assim como o fiz com meu marido, que estou chateada, decepcionada e cansada. Ajude-me, mais uma vez eu te peço...".

Esta é outra grande diferença de começar o dia com Cristo. Se você não o faz, pode até orar e conversar com Ele ao longo do dia, mas não está ciente do propósito que Ele separou para você especificamente para aquele dia. Indo ao Seu encontro logo ao acordar, você consegue discernir melhor a Sua vontade - ainda que não consiga cumprí-la de pronto, e aí sim, o diálogo com Ele se torna muito mais produtivo. No meu caso, eu percebi que seguir a Cristo não me resguardaria de incidentes nos meus relacionamentos, mas percebi também que Ele usa esses incidentes para que trabalhemos melhor esses relacionamentos, para que haja crescimento através do exercício (doloroso) do perdão e da benignidade. Os incidentes podem, assim, se converter em bênçãos.

Nesse contexto os versículos que li hoje parecem enfáticos. "Negue-se a si mesmo" é uma frase simples de significado estrondoso. Cada vez que eu me nego, o outro passa a ocupar um lugar mais importante na minha vida, e num mundo que incentiva a primazia do Eu, não há cruz mais pesada que reprimir os impulsos de vingança, ressentimento e mágoa. A notícia bom é que não cabe a nós substituir esses maus sentimentos por outros bons. Isso é simplesmente impossível. O Espírito Santo é que atua em nós quando esvaziamo-nos do lixo, então Ele nos preenche e encontramos nEle a paz de que necessitamos, a capacidade de perdoar e tudo o mais necessário à restauração dos nossos relacionamentos.

"Alguns há, dos que estão aqui, que de modo nenhum provarão a morte até que vejam o reino de Deus.", disse Cristo. A primeira coisa que nos passa pela cabeça ao ler pela primeira vez essa passagem é que os discípulos irão ver um Reino literal, serão arrebatados ou coisa que o valha. Os discípulos também devem ter pensado que eles veriam a glória de um reino terrestre e isso deve tê-los animado bastante. Jesus não explica suas palavras, mas os fatos as explicam. Logo em seguida ocorre a transfiguração. E ali, Cristo, Moisés (representando os mortos que serão ressuscitados) e Elias (representando os fiéis que não passarão pela morte) se apresentam em aparência de glória diante de três discípulos como figura de um Reino porvir. O comentário da Bíblia de Genebra diz: "sugestões quanto ao sentido desta frase [a primeira deste parágrafo] incluem a Transfiguração, a ressurreição de Jesus, a ascensão, o Pentecostes, a disseminação do evangelho, a destruição de Jerusalém e o Segundo Advento". Creio na última hipótese. Mas esta e todas as outras hipóteses constituem revelações de um Reino, não o Reino em si. Cristo revelou a glória de Seu reino a discípulos que não lograram compreendê-la. E não é assim comigo? Quantas vezes durante o dia Deus me revela facetas do Seu Reino e eu simplesmente não consigo ver porque estou esperando que Ele me mostre o que eu quero ver? Quantas vezes Deus é sutil e simples em suas revelações, mas eu teimo em só querer vê-lO no místico e no grandioso? Quantas vezes o Reino de Deus se me revela em flashes diante dos meus olhos, que não o vêem porque eu quase nada conheço sobre a essência do Reino de Deus?

Hoje eu pude ver o Reino de Deus na cortesia de um homem. Na alegria de uma senhora. Na simpatia de um amigo. Na inteligência de uma frase. E quantos puderam ver o Reino de Deus se revelando em mim? Esta pergunta me faz voltar às pessoas. Aquelas que no início do dia eu culpei por meu mau humor. Sinto vontade de orar por elas, pelos problemas que as levaram a tomar certas decisões que eu me recusei a compreender. Que talvez eu nem venha a compreender de fato. Mas que Deus conhece e pode ajudar a mudar se julgar necessário, tal como mudou minha decisão de deixar-me estar magoada.

Acho que não poderia ir dormir com melhor desejo que esse: vontade orar. "Venha a nós o Teu Reino" para que eu e meu marido sejamos uma revelação do Teu Reino. "Venha a nós o Teu Reino" para que eu e aquela minha amiga sejamos uma revelação do Teu Reino. "Venha a nós o Teu Reino" para que eu contigo sejamos uma revelação do Teu Reino

domingo, 15 de maio de 2005

40 dias procurando Luz - Dia 01

Textos Bíblicos do dia:

Jó 28: 12 e 28 - "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento? E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento."
Salmo 37: 3 - 5 - "Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança. Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará."
Atos 2:1 - 2 - "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados."
Filipenses 2: 12 e 13 - "De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."

Meditando:

O centro da cidade convulsionava. Carros, transeuntes e vendedores ainda mais agitados compunham um cenário caótico para o balé dos guarda-chuvas. E eu estava feliz. Talvez porque a chuva torrencial fez diminuir bastante a fila na repartição em que eu me encontrava, normalmente abarrotada. Talvez algum sorriso apreendido inconscientemente em meio a multidão. Ou talvez fossem simplesmente por causa daquela paz inquieta, a primeira resposta que obtive de Deus.

Sou adventista do sétimo dia há quase onze anos. Gosto da minha igreja, me interesso bastante por teologia, tenho prazer em estudar a Bíblia e tudo que lhe diz respeito. Mas freqüentemente sinto que minha prática religiosa se resume a acumular conhecimento e cumprir praxes. Os sermões parecem dizer algo que já sei, embora eu assuma a medíocre posição de "concordo, mas não pratico". Nos últimos tempos minha vida devocional tem andado capenga. Meditação matinal, lição da escola sabatina, livros do Espírito de Profecia são materiais de apoio que não faltam em meu lar, mas têm estado distante da minha alma. E o mais interessante é que eu quero. Por vezes tento organizar uma rotina espiritual com mais leitura bíblica, oração. Mas parece que não funciona, que não engrena. E lá volto eu para meu estado de mornidão.

Estou cansada destes altos e baixos. Não tenho a pretensão de nunca mais voltar a cair porque sei que sou pecadora, mas quero conseguir manter meus olhos fixos no Alvo (Filipenses 3:13 e 14). Não quero mais saber as coisas divinas de ouvir falar, mas de experimentar, de conhecer na alma. Se for assim, nunca mais haverá para mim sermões frios, falta de tempo para orar e ler a Bíblia, carência de discernimento sobre a vontade de Deus. Estou realmente cansada de brigar com Deus porque a minha vida não está do jeito que eu queria, para depois me envergonhar de ter duvidado dele com minha revolta e minhas orações imperativas, paupérrimas de tão materialistas e imediatistas. Intimamente não suporto mais os meus pecados, a minha incapacidade de ver adiante, a minha falta de habilidade em amar e mesmo em ser amada, a minha hipocrisia velada mas tão patente nas muitas pessoas que deixaram de ver Cristo por trás dos meus discursos . O discurso do silêncio medroso, o discurso das obras de fachada, o discurso da oferta inodora, do conformismo insípido, da reserva indolor (ou pecado acariciado, como diz o velho jargão). A humanidade hoje pesa em mim como se meu espírito tivesse pés cravados ao solo. Anseio a límpida luz de Cristo, a leveza do Seu sorriso, a fluidez balsâmica com que se derrama. Quero libertar-me de mim mesma. Por isso estou aqui.

Hoje não foi fácil acordar. Os dias anteriores foram muito cansativos. E ontem tive a maior crise de rinite alérgica do ano, o que me fez dormir muito mal. A lembrança de uma reportagem qualquer do Fantástico me dizia que o sono é o melhor remédio para esses casos, já que restaura o sistema imunológico. Sono. Era o que eu mais sentia. Mas levantei. A primeira oração foi feita em estado de semi-consciência, mas ao começar a ler a meditação de hoje já conseguia concatenar as idéias. Fui começando a entrar em sintonia com Deus quando...

TRIMMMM!!!!

Era uma colega de faculdade ao telefone, dizendo que não ía poder entregar sua parte no trabalho. Parte que eu teria de fazer, claro. Enquanto meu marido continuava a leitura da meditação eu me esforçava para tirar a mente daquela raiva que eu estava sentido. E a mente querendo divagar. Uma luta breve mas árdua, até que consegui voltar a sintonizar Cristo.

Decidimos ler dois versículos escolhidos aleatoriamente no Antigo Testamento e dois no Novo Testamento e depois fazer uma oração individual de cinco minutos enquanto refletíamos no significado dos versos escolhidos. Senti-me movida a propor isso porque, depois que casei, tenho orado mais, no entanto minhas orações individuais diminuíram bastante. O que me fez conhecer o fato de que não importa a quantidade de orações, mas a qualidade delas. É comum eu me pegar pensando no fogão enquanto meu marido ora pelo alimento ou na conta para pagar enquanto ele ora antes de dormirmos. Quando sou eu que faço a oração tenho a preocupação de escolher palavras, de ser empática, e acabo generalizando muito e abrindo pouco o meu coração. Incrível como consigo conversar com meu marido sobre qualquer coisa, mas enquanto oramos sinto-me constrangida de falar de mim. Hoje sei que nada substitui a oração individual entre Cristo e um pecador. Numa comparação grosseira, orar com o outro é como ir a uma jarra de suco. Você se delicia. Mas para matar a sede, o melhor é ir mesmo a Fonte das Águas. Suco a vida inteira saturaria o paladar.

Quando terminou a oração eu me espantei em como os cinco minutos passaram rápido. Talvez devêssemos aumentar o tempo amanhã para dez minutos. Numa oração em que se está sedento pelo contato íntimo com Deus, há que se ter tempo para refletir nas Suas palavras e depois ouvir-Lhe a voz falando suavemente a esse respeito. E há tanto a ser dito! Tanto a ser percebido! Que diferença de quando se está de joelhos num culto, preocupado com a meia-calça que pode desfiar, o sapato que pode sujar, o joelho que começa a doer, o irmão que pode estar te olhando, a hora de dizer amém, o palavreado que lhe chega tão vazio... Que bom seria transportar para as orações do culto esta sensação de paz que o falar com Deus proporciona. Uma paz que, aliás, foi a resposta de Deus a todos os questionamentos equivocados que não Lhe fiz. Uma resposta que, enfim, tem uma finalidade que não saciar minha falta de fé infantil e curiosa.

O correr do dia me levou, debaixo de uma chuva torrencial, à fila naquela repartição mencionada anteriormente. Cansada, mas agora apenas no corpo. Feliz com a paz de uma oração prolongada pelo dia inteiro, num diálogo mudo mas poderoso. É como se eu pudesse ver os olhos de Cristo colocados em mim. E os nossos olhares se comunicassem intensamente. Mas ainda O vejo no alto, sobre. Quero-O perto, tão perto que possa sentir também Seu abraço. Ainda me peguei fugindo voluntariamente do Seu plano para mim em algumas atitudes, pensamentos e palavras. Quero Seu abraço me ajudando a não fugir mais.

Espero-O amanhã mais uma vez. Hoje vou dormir ainda feliz, com a constatação de que Deus foi a primeira e última ocupação da minha mente neste dia.

O programa de Deus para a minha vida hoje (para ser escrito todos os dias, logo após a meditação):

Manter a minha mente voltada para Ele e o espírito conectado com as coisas do Céu, de modo que as coisas da Terra não me pareçam tão difíceis, ruins, negativas ou mesmo importantes.